Envolvido na disputa geopolítica entre Estados Unidos e China sobre qual tecnologia utilizar para implementar a rede de internet móvel 5G, o Brasil vive dilema sobre permitir ou não a entrada da chinesa Huawei no leilão de frequências no país. Segundo Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, China e Alemanha, o Brasil deveria manter postura “equidistante” na disputa.
“O Brasil precisa atuar de maneira fria e pragmática, evitando alinhamentos ideológicos. É muito importante nós não tomarmos lado nesse confronto e preservar postura independente e equidistante em relação à disputa entre China e EUA”, afirmou.
Ele relembra o caso em que o Brasil foi o único país a assinar um documento em conjunto com os Estados Unidos pedindo para que a Organização Mundial do Comércio (OMC) banisse do órgão qualquer economia que não fosse de mercado, uma crítica à China e ao envolvimento estatal na economia do país.
“Foi uma tentativa do governo dos EUA de expulsar a China da OMC. O governo brasileiro, ao se alinhar sozinho aos Estados Unidos, cometeu um erro diplomático de alinhamento excessivo e subserviência aos EUA. É válido criticar o papel grande do Estado na economia chinesa, mas isso o Brasil poderia fazer isso nos debates, e não em uma postura claramente contra a China.”
Inferioridade
Abdenur ressalta que vivemos um momento único em que os Estados Unidos estão em situação de inferioridade em relação à China na questão do 5G, na busca pela vacina contra a Covid-19 e na expansão comercial.
“Surpreendente ver os EUA em situação de inferioridade. Na questão do 5G, os EUA têm estratégia de contenção contra a China, mas sem sucesso, pois estão em inferioridade tecnológica. Os EUA também estão perdendo a corrida da vacina contra a Covid-19, já que a China ganhou pontos ao anunciar que sua vacina será um bem comum da humanidade. Além disso, há o projeto da nova Rota da Seda, cobrindo Europa e Ásia, em que os Estados Unidos não têm cacife para competir.” (CNN)