ARGUMENTOS EM TORNO DAS REDES SOCIAIS

Compartilhar:
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram

 

Parte II

 

Por José Gadêlha Loureiro

 

O estudioso estadunidense Jaron Lanier, ao abordar as implicações digitais no mundo atual em seu livro “Dez Argumentos para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais”, traz à tona questões pertinentes que discutimos na primeira parte deste artigo. Continuaremos agora com os argumentos de seis a oito.

 

Argumento Seis – AS REDES SOCIAIS DESTROEM SUA CAPACIDADE DE EMPATIA

 

Se as redes sociais transformam o que você diz em algo sem sentido, elas acabam por destruir também sua capacidade de empatia, ao usar os algoritmos da máquina Bummer para você ser e ver o que ela quer que você seja e veja! No contexto atual, não dá para você ter uma noção clara sobre a visão de mundo das pessoas, considerando que a percepção de mundo está sendo moldada e modificada artificialmente pela máquina Bummer. Buscas, feeds e outros artifícios estão na raiz desse problema.

 

Imaginemos que um velho behaviorista de tempos passados ponha uma fileira de cachorros engaiolados em um laboratório, cada qual recebendo mimos e choques elétricos, dependendo do que acabou de fazer. Nesse caso, o experimento só funcionaria se cada cachorro recebesse estímulos de acordo com seu comportamento específico. Caso os fios fossem cruzados, de modo que um cachorro recebesse o estímulo de outro, o experimento deixaria de funcionar – conforme relata Lanier.

 

O mesmo pode acontecer com a plataforma Bummer; e o que é pior: as implicações agora são para pessoas, e não para simples animais. As pessoas não estão em gaiolas separadas; portanto, dependem primordialmente da percepção social para terem uma compreensão de si mesmas e do universo que as cerca. Com isso, a rapidez, o idiotismo e o crescimento das falsas percepções sociais estão sendo ampliados a um ponto tal que as pessoas parecem não estar vivendo no mesmo mundo – o real. Não só o espaço público perde dimensão, como os sentidos comunitários e o locus político. Se você compartilha das mesmas vivências, estabelece relações, vínculos comunitários e constrói identidades, pode criar possibilidades de vida; agora, se tudo isso perde sentido, e suas experiências sociais são monitoradas por algoritmos, é prova de que se perdeu a correia de transmissão de uma sociedade minimamente decente. Afinal, a máquina Bummer está roubando as teorias da mente de todo mundo.

 

Argumento Sete – AS REDES SOCIAIS Deixam você infeliz

 

A retórica alegre da Bummer, propagada mundo afora, é fazer todo mundo se sentir conhecido, amigo e conectado. No entanto, pesquisas científicas mostram outra realidade – além de não estarem conectadas, as pessoas sofrem de isolamento e tristeza. A coisa é tão óbvia que até os estudiosos do Facebook não escondem que a própria plataforma pode deixar as pessoas infelizes sem que elas percebam.

 

Perguntemos agora a nós mesmos, como diria o mestre do Cosme Velho em suas elocubrações filosóficas, ou o decano do jornalismo brasileiro, Mino Carta: por que promover a tristeza se isso não mudaria a imagem da marca Facebook? A questão não é essa; é outra mais profunda – a rede de Mark Zuckerberg e sua bilionária publicidade quer alcançar seus verdadeiros clientes, àqueles que pagam para manipular. E você, – o manipulado – é o produto, não o cliente. E mais recentemente, a rede social assumiu que suas manipulações podem causar danos reais. Acorda, gente!

 

O que o deixa chateado, segundo Jaron Lanier, é a maneira como as redes sociais abordam o problema. “Sim, nós deixamos você triste, mas fazemos mais bem do que mal para o mundo.” No entanto, é bom que se diga que as coisas que fazem bem estão ligadas ao esquema Bummer. Sim, as pessoas podem estar conectadas – é ótimo -, no entanto, por que têm que aceitar a manipulação por parte de terceiros? E se essa manipulação for o verdadeiro problema? Manipuladores on-line de plantão usam algoritmos para tentar se beneficiar automaticamente, e isso é capaz de deixá-lo muito mal.

 

A estratégia central do modelo de negócio da Bummer é deixar o sistema se adaptar de forma automática para engajar você o máximo possível – e considerando que as emoções negativas podem ser utilizadas mais prontamente, é óbvio que um sistema assim buscará uma maneira sutil de você se sentir mal. E entre uma movimentação e outra da lógica Bummer, nossas emoções descobrirão que o contraste entre agrados e punições é mais eficaz do que qualquer um dos dois separadamente. A lógica do vício é associada à anedonia – redução da capacidade de sentir prazer na vida, a não ser no que a pessoa esteja viciada -, e os viciados em redes sociais parecem propensos à anedonia de longo prazo, conforme destaca o autor fazendo referência a Moira Burke – outra estudiosa das redes sociais.

 

Assim, os algoritmos da Bummer trabalham para transformá-lo em uma pessoa infeliz, considerando que eles se adaptam de forma automática para engajar você o máximo possível na lógica do negócio Bummer. E é preciso lembrar – como destaca o autor – que as emoções negativas, mais do que as positivas, são os ímãs Bummer mais acessíveis e lucrativos para as pessoas. E sem um espaço para me inventar, como posso ter autoestima?

 

Em tempo: na parte III, continuaremos com os argumentos nove e dez.

 

Leia parte I abaixo:

https://tudooknoticias.com.br/argumentos-em-torno-das-redes-sociais/

Mais lidas

A PÁSCOA E O SENTIDO DA RESSURREIÇÃO
Casa de Chá renasce como joia do coração d...
Programação especial celebra aniversário d...
...