Algumas horas após ser alvo da Operação Placebo da Polícia Federal, o governador Wilson Witzel (PSC-RJ) fez um pronunciamento na tarde desta terça-feira, dia 26, no Palácio Laranjeiras. O governador classificou a operação como “desproporcional” e chamou a investigação de “fantasiosa”.
Nas declarações aos jornalistas, ele voltou a criticar o presidente Jair Bolsonaro e disse que quem deveria estar na cadeia é o senador Flávio Bolsonaro. Durante quase cinco minutos, afirmou acusou a Polícia Federal de não fazer o seu trabalho quando a questão é sobre a família do presidente da República.
Narrativa fantasiosa
“Quero manifestar a minha absoluta indignação com o ato de violência que o Estado de Direito sofreu. Tenho todo respeito ao ministro Benedito Gonçalves, mas essa busca e apreensão foi construída com uma narrativa fantasiosa. O ministro foi induzido ao erro” — afirmou Witzel que se mostrou irritado com a busca e apreensão feita pela Polícia Federal.
Witzel foi alvo de busca e apreensão da PF em função de um inquérito que apura desvios de dinheiro público da saúde, inclusive na contratação de empresas que seriam as responsáveis para montar sete hospitais de campanha que atenderão pacientes infectados pela Covid-19.
Interferência de Bolsonaro
No pronunciamento, Witzel atribuiu a operação à suposta interferência do presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) na Polícia Federal – já denunciada pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro – e classificou a ação como “perseguição política”.
Enfatizou ainda que governadores que são inimigos políticos do governo federal também serão alvos. No final do ano passado, o presidente afirmou que Witzel estava por trás da investigação do Ministério Público Estadual que apura um suposto esquema de rachadinha praticada pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro.
O governador, que até em meados do ano passado era aliado de Bolsonaro, disse ainda que vai manter sua rotina de trabalho “para salvar vidas e corrigir erros que são passíveis”.
Antes do pronunciamento, o governador já havia negado qualquer tipo de envolvimento no esquema de desvios de recursos públicos destinados ao atendimento do estado de emergência de saúde pública. Quinze equipes da PF participaram da ação, que teve a finalidade de apurar os indícios de desvios em hospitais de campanha.
Flávio Bolsonaro dispara
Por uma rede social, o senador Flávio Bolsonaro disse que o governador do Rio cometeu uma atrocidade ao tentar envolvê-lo em uma narrativa absurda e que ele e sua mulher devem explicar o que está acontecendo.
“Ele quis me trazer para o centro da atenção para criar uma cortina de fumaça. Só governador, isso não vai colar. Com as redes sociais, hoje, você pode ter certeza. Eu chamo de você, porque você não merece ser chamado de senhor. A pessoa que faz o que você está fazendo não merece ser chamada de senhor. Então, responda pelos seus atos e já queira começar. Você comete um erro falho: um erro crasso ao querer me envolver nessa situação; dizendo que “nós já temos provas de que o senador Flávio Bolsonaro já fez alguma coisa”– afirmou o filho do presidente em um vídeo.
Confira o pronunciamento na íntegra:
“Quero manifestar minha absoluta indignação com o ato de violência que, hoje, o Estado Democrático de Direito sofreu. Uma busca e apreensão que, eu tenho todo respeito ao ministro Benedito (Gonçalves), mas a narrativa que foi construída e levada ao ministro Benedito é absolutamente fantasiosa. Não vão conseguir colocar em mim o rótulo da corrupção. Todas essas irregularidades foram investigadas e estão sendo investigadas por determinação minha. A busca e apreensão, além de ser desnecessária, porque o ministro foi induzido ao erro, é fantasiosa a construção que se fez e não resultou em absolutamente nada.
Não foram encontrados valores, não foram encontrados joias. Se encontrou, foi apenas a tristeza de um homem e de uma mulher pela violência com que esse ato de perseguição política está se iniciando no nosso país. O que aconteceu comigo vai acontecer com outros governadores que forem considerados inimigos. Narrativas fantasiosas, investigações precipitadas, um mínimo de cuidado na investigação do processo penal, levaria aos esclarecimentos necessários. Ao contrário, o que se vê na família do presidente Bolsonaro é a Polícia Federal engavetar inquéritos e vaza informações. O senador Flávio Bolsonaro, com todas a provas que já temos contra ele, que já estão aí sendo apresentadas, dinheiros em espécie depositado em conta corrente, lavagem de dinheiro, bens injustificáveis, ele já deveria estar preso. Esse sim.
A Polícia Federal deveria fazer o seu trabalho com a mesma severidade que passou a fazer no estado do rio de Janeiro, porque o presidente acredita que eu estou perseguido a família dele, e ele só tem essa alternativa de me perseguir politicamente. Acusações levianas estão feitas em relação a mim, mas tudo isso será absolutamente demonstrado de forma clara e precisa nos processos que tramitam no STJ.
Quero dizer ao povo do Rio de Janeiro que estou com a minha consciência tranquila. Eu prometi ao povo que não os decepcionarei e não irei decepcioná-los, mesmo lutando contra forças muito superiores a mim. Continuarei trabalhando de cabeça erguida, manterei minha rotina de trabalho, para continuar salvando vidas e corrigindo erros que todos nós estamos passíveis de sofrermos diante desse momento tão difícil que atravessa o Brasil, governado por um líder que, além de ignorar o perigo que estamos passando, inicia perseguições políticas a quem ele considera inimigo.
Continuarei lutando contra esse fascismo que se instala no país e contra essa ditadura de perseguição. Não permitirei que esse presidente que ajudei a eleger se torne mais um ditador da América Latina. Não abaixarei minha cabeça, não desistirei do estado do Rio de Janeiro, e continuarei trabalhando para uma democracia melhor.
Eu continuarei lutando contra esse fascismo que está se instalando no país, contra essa nova ditadura de perseguição. Até o último dos meus dias, eu não permitirei que, infelizmente esse presidente que eu ajudei a eleger, se torna mais um ditador na América Latina. Vamos lutar contra isso, vou apresentar tudo que for necessário para esclarecer e acabar com esse circo que está sendo feito em relação ao estado do Rio de Janeiro. A democracia vai vencer. Nós vamos lutar e, tenho certeza, que a Justiça será feita em momento oportuno”.