Poeta Vicente Sá, ícone cultural de Brasília, deixa legado eterno com versos e melodias
“A morte é para os outros, não para os poetas.” Assim afirmou Nicholas Behr, poeta cuiabano de alma brasiliense, ao refletir sobre a perda de Vicente Sá, falecido nesta sexta-feira (24), em Brasília, aos 68 anos. Apesar de sua morte, Behr acredita que os versos de Sá continuarão a ecoar, perpetuando sua essência.
Natural de Pedreiras, no Maranhão, Vicente Sá encontrou em Brasília a musa que inspirou sua vasta obra como poeta, compositor, cronista, romancista e roteirista. Entre as quadras da Asa Norte e os traços modernistas do Plano Piloto, ele transformou a cidade em personagem e palco de sua criação.
“Vicente humanizou a maquete”, diz Behr, referindo-se à visão artística e sensível que ele e outros de sua geração trouxeram ao projeto urbano de Brasília. Era um tempo de resistência, como lembra o maestro Renio Quintas, parceiro musical do poeta. A ditadura cívico-militar marcava a época, mas a arte florescia como forma de luta e construção cultural.
Juntos, Vicente Sá, Renio Quintas, Sérgio Duboc e outros artistas forjaram uma Brasília que pulsava arte. “Descobrimos que, se a gente não fizesse, não ia ter nada. Ocupamos os espaços, criamos a cidade”, recorda-se Duboc. Em 45 anos de parceria com Sá, o violonista afirma que eles nunca seguiram fórmulas: a música e os versos surgiam de encontros, trocas e cumplicidade.
O advogado e poeta Fabrizio Morelo também compartilha dessa memória: “Ele me esperava para terminar uma música, mesmo sabendo que poderia fazê-lo sozinho. Ele tinha essa generosidade.”
Nas palavras de Vicente Sá, que agora ecoam com ainda mais força, há o desejo de uma partida repleta de beleza e significado: “Quero morrer assim/ cercado de amigos e cachaça/ no colo da eterna companheira/ bonito/ poeta.”
A vida de Vicente foi interrompida por uma pneumonia, agravada pelo tratamento contra o câncer, mas sua obra permanece viva. Neste domingo (26), o Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul) será palco de um último adeus. Amigos, músicos e poetas se reunirão a partir das 10h para celebrar sua vida e legado, reafirmando que, para poetas como Vicente Sá, a morte nunca é o fim.