Uso de Inteligência Artificial cresce e gera alertas éticos

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Popularização da ferramenta apresenta benefícios e riscos

Por Simone Salles

A Inteligência Artificial (IA) já não é uma promessa futurista. É a realidade presente, molda a forma como a sociedade vive, trabalha e interage. De diagnósticos médicos mais rápidos à automação de empregos antes considerados exclusivamente humanos, essa tecnologia se expande de forma acelerada. Em áreas como saúde, neurociência e exploração espacial, a IA promete mais avanços, por meio  de diagnósticos rápidos, análise de dados complexos e soluções que antes pareciam inalcançáveis.

Mas à medida que essas ferramentas evoluem, cresce também uma certa inquietação que alimenta esperanças e acende alertas éticos.  Uma delas é a percepção entre os cidadãos de que o desenvolvimento da IA deve ser melhor regulado. Um exemplo emblemático surge no debate sobre veículos autônomos. Quem é responsabilizado se houver um acidente: o software, a montadora? O dilema vai além da tecnologia, abrange diretamente princípios jurídicos e morais. Pesquisas recentes indicam que os  eleitores desejam ter voz ativa sobre como essas ferramentas são implementadas. Eles temem que o progresso sem limites comprometa empregos, privacidade e até a autenticidade das experiências humanas. 

Há algum tempo, cidadãos, legisladores e especialistas debatem os limites do uso da IA e o que é aceitável ou não. Há um consenso de que a IA deve ser usada com bom senso e responsabilidade. Ela é uma ferramenta poderosa para ajudar as pessoas e não para as substituir. No campo da acessibilidade e da inclusão, a IA revoluciona a vida das pessoas com deficiência. Ensina um cego a “ver”, permite que um tetraplégico recupere movimentos com implantação de chips… Mas é fundamental que o ser humano continue no centro das decisões, por seu pensamento crítico e discernimento. A IA pode ser um excelente apoio, mas depender dela para resolver tarefas simples, sem qualquer filtro pessoal, pode atrofiar justamente o que os seres humanos possuem de mais valioso: a capacidade de pensar por si mesmo.

Nesse sentido, a linha entre usar a tecnologia com sabedoria e ser desonesto nunca foi tão tênue. Nas escolas e faculdades, os professores agora se preocupam em instruir os alunos de que o uso de IA para exames ou deveres de classe pode ser considerado fraudulento, resultado de preguiça ou pouco empenho. Assim como não é ético um profissional assinar um trabalho feito inteiramente por  IA. 

Esse ponto é particularmente sensível no ambiente corporativo. Há casos em que, em meio a uma conversa entre colegas, alguém responde com um longo texto artificial, sem conexão com o tom do diálogo. Isso resulta em desconfiança e em comentários irônicos como “ChatGPT detectado”. O profissional corre o risco de perder credibilidade ao usar IA sem transparência. Quando a IA é usada para produzir conteúdo, como uma apresentação, uma análise ou uma matéria jornalística, o mínimo ético é reconhecer sua fonte. Para os bons profissionais, preservar sua própria capacidade intelectual deve permanecer um selo de qualidade inegociável.

As experiências no mundo real mostram que a IA, como quase tudo na vida, tem dois lados. No Japão, por exemplo, algoritmos ajudam idosos a monitorar sua saúde e prevenir quedas, salvando vidas. Em hospitais dos EUA, sistemas inteligentes conseguem detectar tumores com precisão maior do que especialistas. Já na China, tecnologias de vigilância alimentadas por IA suscitam críticas sobre controle estatal e perda de liberdades civis. Em Blangladesh, a IA foi usada para manipular a opinião pública no dia da eleição. 

No Brasil, existe o receio justificado da perda de emprego não qualificado para as máquinas, devido à pequena especialização de grupos de trabalhadores que executam funções básicas sem treinamento para lidar com as novas tecnologias. A IA não substituirá todos os empregos, mas mudará a natureza de muitos deles ao automatizar tarefas repetitivas e permitir que os trabalhadores se concentrem em funções mais complexas e criativas. 

Outro ponto pouco debatido é o custo ambiental dessa tecnologia. Estima-se que uma única pesquisa feita no ChatGPT ou qualquer outro chatbot consuma até dez vezes mais energia do que uma pesquisa em mecanismos de busca tradicionais, como o Google. Isso gera uma reflexão sobre sustentabilidade e consumo consciente no mundo digital. Embora a IA se torne cada vez mais popular, crescem também as preocupações sobre seu alto gasto energético e impacto ambiental.

A inteligência artificial não é um fim em si. Pode ser uma ponte para um futuro mais eficiente ou um abismo onde se perdem valores humanos essenciais. A resposta está em como os usuários escolhem usá-la: com transparência, consciência e humanidade. Afinal, é uma ferramenta — e como toda ferramenta, o que importa é a sabedoria de quem a utiliza.

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