Se você nunca sentiu uma dor de cabeça, algo improvável, saiba que sentirá — e pode ser agora mesmo. Estudos recentes mostram que nove em cada dez pessoas, crianças inclusive, têm algum tipo de cefaleia, a denominação científica para a mais tristemente democrática das condições de saúde. Pelo menos 150 modalidades de cefaleia já foram catalogadas, de diferentes graus de sofrimento, duração e localização.
Nenhuma é mais terrível do que a enxaqueca — menos frequente, alcança quinze em cada 100 indivíduos, o que equivale a 30 milhões de pessoas no Brasil. Elas sofrem com episódios recorrentes de um distúrbio que pode durar de quatro a 72 intermináveis horas, quase sempre unilateral, na fronte e na têmpora (a dor de cabeça comum é bilateral e difusa, facilmente solucionada com um analgésico leve). No mundo, há 1 bilhão de vítimas. Como efeitos adversos, a enxaqueca induz a náusea e o vômito e impede qualquer contato com fiapos de luz ou ruídos, mesmo os quase inaudíveis.
A escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941), que padecia do mal, chegou a dizer em um ensaio autobiográfico, Sobre Estar Doente, de 1926, que não havia no inglês de Shakespeare, o idioma que lhe permitiu dar vida a personagens como Hamlet e o Rei Lear, palavras capazes de descrever uma enxaqueca (veja abaixo). Para o alemão Emil du Bois-Reymond (1818-1896), um dos mais profundos conhecedores do cérebro de seu tempo, aquilo que ele mesmo sentia, cotidianamente, era “uma sensação generalizada de desordem”.