Presidente brasileiro defende reciprocidade frente à nova tarifa anunciada por Trump e cobra respeito à soberania do Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista à TV Record exibida na noite desta quinta-feira (10/07), que buscará diálogo com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, antes de adotar medidas de retaliação à tarifa extra de 50% que o republicano ameaça impor aos produtos brasileiros. Caso não haja acordo, Lula garantiu que o Brasil responderá à altura. “Temos vários caminhos”, disse. “Podemos recorrer à OMC, propor investigações internacionais, cobrar explicações. Mas o principal é a Lei da Reciprocidade. Se ele cobrar 50% da gente, a gente vai cobrar 50% dele.”
A Lei da Reciprocidade, sancionada em abril após a primeira onda de tarifas propostas por Trump, autoriza o governo brasileiro a retaliar medidas unilaterais que afetem negativamente a competitividade internacional do país. Entre os instrumentos previstos estão a suspensão de concessões comerciais e de direitos de propriedade intelectual, como patentes.
Segundo o vice-presidente Geraldo Alckmin, o decreto que regulamenta a nova legislação será publicado nos próximos dias. No entanto, conforme apuração da Folha de S.Paulo, a retaliação brasileira só deve ocorrer a partir de 1º de agosto, data anunciada por Trump para a entrada em vigor da nova tarifa — que se somaria a uma sobretaxa de 10% já em vigência.
Carta de Trump é “afronta”, afirma Lula
Durante a entrevista, Lula também classificou como “afronta” a carta pública divulgada por Trump na rede Truth Social, na qual o ex-presidente americano justifica a tarifação com base em uma suposta “política comercial injusta” do Brasil. Trump ainda fez ataques diretos ao país, mencionando “ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e à liberdade de expressão dos americanos”, além de criticar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF), afirmando que se trata de uma “caça às bruxas que deve acabar imediatamente!”.
Lula reagiu com firmeza, considerando inadmissível qualquer tipo de ingerência externa nas decisões soberanas do Brasil. “Bolsonaro deveria assumir a responsabilidade por esse tarifaço. Aliás, foi o filho dele que foi lá fazer a cabeça do Trump”, disse o presidente, referindo-se ao deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está desde março nos EUA fazendo lobby em favor do pai junto a políticos conservadores americanos.
“Trump estaria sendo processado se tivesse feito aqui o que fez no Capitólio”
O presidente também rechaçou as críticas de Trump ao STF e às decisões judiciais contra redes sociais como o X. “Eu não me meto no Poder Judiciário, porque ele é autônomo. Ele [Trump] tem que respeitar a Justiça brasileira, como eu respeito a americana. Se o que ele fez no Capitólio tivesse acontecido no Brasil, ele estaria sendo processado como o Bolsonaro, e arriscado a ser preso, porque feriu a democracia”, afirmou Lula, referindo-se à invasão do Congresso americano por trumpistas em 2021.
Apesar da tensão atual, Lula lembrou que teve relações respeitosas com ex-presidentes dos EUA, tanto republicanos quanto democratas, como George W. Bush, Barack Obama e Joe Biden. E fez questão de destacar: “O que pedimos é respeito à soberania do país e às suas instituições”.
Empresariado e Congresso reagem
Lula ainda anunciou a criação de um comitê com empresários para repensar a política comercial do Brasil com os Estados Unidos. Ele também rebateu a justificativa de Trump para a nova tarifa, apontando que o argumento de déficit comercial com o Brasil não se sustenta. “É uma alegação falsa, que demonstra total desconhecimento. O saldo é, na verdade, positivo para os EUA.”
A postura de Trump gerou reações até mesmo entre setores conservadores no Brasil. Os presidentes do Senado e da Câmara, Davi Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgaram uma nota conjunta defendendo o “diálogo”, mas afirmando estar preparados para agir com “equilíbrio e firmeza” na defesa da economia nacional.