Trump impõe tarifa de 50% ao Brasil e pressiona STF por Bolsonaro após fala polêmica de Lula no BRICS
Por Carlos Arouck
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta terça-feira (9) uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil. A medida, que entra em vigor em 1º de agosto, foi comunicada por carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e divulgada publicamente na Truth Social, rede social de Trump.
A decisão foi lida como uma retaliação direta não apenas por questões comerciais, mas também por recentes declarações de Lula durante a cúpula do BRICS, realizada no Brasil. Lá, o presidente brasileiro acusou os EUA de “ingerência imperialista”, criticou o “uso político do dólar” e afirmou que “Bolsonaro é apenas uma peça útil no tabuleiro de Washington”.
As falas causaram mal-estar com a Casa Branca e foram usadas por Trump para justificar a nova sanção. Em sua carta, ele classificou as declarações como “hostis e desrespeitosas” e afirmou que o Brasil “cruzou uma linha vermelha ao atacar as instituições americanas enquanto persegue um aliado político”.
Além da tarifa, Trump voltou a defender Jair Bolsonaro, que responde a processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado em 2022. Trump chamou o julgamento de “caça às bruxas” e acusou o ministro Alexandre de Moraes de “censurar redes sociais americanas”, alegando ordens ilegais para bloquear perfis bolsonaristas, inclusive na Truth Social.
Trump disse que a tarifa é uma resposta tanto à postura do governo Lula quanto à perseguição, segundo ele, ao “único líder que tentou proteger a democracia no Brasil”. Também ameaçou impor novas sanções caso o julgamento de Bolsonaro avance sem, nas palavras dele, “garantias de justiça real”.
A reação do mercado foi imediata: o Ibovespa futuro caiu 2,23% e o dólar futuro subiu 1,76%, chegando a R$ 5,58. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) criticou a tarifa, dizendo que ela prejudica setores estratégicos como aço, carne e café, e chamou a decisão de “desproporcional e agressiva”.
O vice-presidente Geraldo Alckmin reagiu com cautela, dizendo que a medida é “injusta” e que o Brasil “não é ameaça para os EUA”. O Itamaraty ainda não emitiu nota oficial, mas fontes do governo indicam que Lula avalia usar canais diplomáticos paralelos para tentar esfriar o conflito.
Trump também anunciou que o Brasil será alvo de investigação com base na Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA um mecanismo que permite retaliações unilaterais contra países acusados de práticas comerciais desleais. O motivo? Supostas interferências do STF contra empresas digitais americanas.
Especialistas alertam que Trump está misturando política interna brasileira com política externa americana o que enfraquece a posição dos EUA na Organização Mundial do Comércio (OMC) e complica a resposta diplomática brasileira.
A ofensiva de Trump, somada às declarações inflamadas de Lula no BRICS, escancara o risco de uma crise diplomática aberta entre os dois países. E, no meio disso, Bolsonaro ganha força: agora com apoio explícito do presidente dos EUA, em meio ao processo que pode torná-lo inelegível para 2026.
Mais do que uma questão comercial, a “tarifa de 50%” virou símbolo de uma disputa política internacional. E o Brasil, já pressionado por dentro e por fora, se vê no centro de um embate entre narrativas, interesses e ideologias.