Após a assembleia que reuniu 500 empregados da Ford de Taubaté (SP) na segunda (11), trabalhadores determinaram uma madrugada de vigília em frente à montadora.
A ordem era para que as portas permanecessem fechadas. “Nada entra e nada sai” foi a orientação de Cláudio Batista da Silva, que preside o Sindicato de Metalúrgicos no município. A notícia sobre o fechamento das fábricas no Brasil foi comunicada pela Ford ao sindicato por telefone às 15h30. “Clima de velório”, relata Silva.
O dia de mobilização em Taubaté será para encaminhar os próximos passos. No radar do sindicato está uma reunião com o governador João Doria (PSDB), intermediada pelo prefeito Saud (MDB), segundo o líder sindical. Setecentas pessoas seguirão empregadas no estado, mas não na área fabril.
Para Ricardo Bacellar, sócio da área automotiva da KPMG no Brasil, a pandemia apenas catalisou a situação desfavorável da montadora no país. “A Ford não tomou essa decisão por desgostar do Brasil,” afirma. A conjuntura envolve prioridade de investimentos em mercados rentáveis e em produtos como carros elétricos e autônomos.
Há 22 anos, o Rio Grande do Sul foi preterido na escolha de uma fábrica da Ford, que optou pela unidade da Bahia. A companhia abandonou as obras em estágio de terraplenagem em Guaíba após um impasse nas negociações com o então governador Olívio Dutra (PT).
“Os benefícios para a Ford, incluindo a concessão de um empréstimo de R$ 210 milhões [em 1999], pareciam ser incompatíveis com a situação fiscal na época. A isso se somou o fato de o regime automotivo do Nordeste tornar a escolha da Bahia muito mais vantajosa à montadora”, diz estudo recente do governo Eduardo Leite (PSDB-RS) sobre benefícios.