Trabalhador brasileiro é o retrato da crise: sem café e sem chocolate

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Foto: Reprodução

 

 

Por Carlos Arouck

No Brasil de 2025, a Páscoa chega sem a abundância de outros tempos. Se antes a data era sinônimo de fartura e celebração, hoje ela escancara a dura realidade do país. Com a inflação persistente e a economia estagnada, o tradicional ovo de chocolate virou artigo de luxo, e muitos brasileiros estão sendo obrigados a trocar o doce símbolo da Páscoa por alternativas mais baratas ou simplesmente abrir mão da comemoração.

Pesquisas indicam que as famílias, especialmente as de baixa renda, estão gastando cerca de 22% de sua renda apenas com alimentação, um reflexo direto da carestia que chegou para ficar. O preço do chocolate subiu bem acima da inflação, impulsionado pelo aumento global do custo do cacau – que atingiu patamares históricos devido a problemas climáticos e de produção –, além da alta nos insumos e na logística. Grandes marcas já reconhecem a queda nas vendas e tentam atrair consumidores com parcelamentos e embalagens reduzidas, mas isso pouco alivia a realidade de quem precisa escolher entre um ovo de Páscoa para as crianças ou garantir a comida do mês.

A crise econômica, longe de ser uma novidade, aprofundou-se nos últimos anos. O salário mínimo, reajustado abaixo da inflação, perdeu poder de compra, enquanto os alimentos básicos encarecem mês a mês. Para piorar, os programas sociais, que poderiam amenizar o sofrimento da população mais vulnerável, se mostram insuficientes diante dos preços abusivos. A cesta básica, que já compromete mais da metade do salário mínimo em diversas capitais, reflete um país onde até o essencial se torna inacessível para muitos.

O desespero do trabalhador é visível no dia a dia. Nem o tradicional “pingado” escapou da alta dos preços. O café com leite, e o pão com manteiga símbolo do café da manhã do brasileiro, está mais caro nos balcões das padarias e botecos, impactado pelo aumento do café, do leite do açúcar, da manteiga e do pão. Muitos trabalhadores, que já haviam cortado o pão na chapa ou o salgado para economizar, agora se veem obrigados a repensar até mesmo essa pequena pausa antes do expediente. Se antes o café na padaria era um momento de alívio no início do dia, hoje ele virou um luxo que pesa no orçamento.

O governo, que prometia uma retomada econômica e o controle da inflação, parece distante da realidade das ruas. Enquanto o discurso oficial fala em “ajustes necessários” e “responsabilidade fiscal”, nas periferias e nos pequenos comércios a conversa é outra: falta dinheiro, falta emprego, falta esperança. A Páscoa, que sempre foi um momento de reunião e alegria, este ano será marcada por sacrifícios e escolhas difíceis.

Se antes o brasileiro se organizava para garantir um almoço especial e presentear os filhos com chocolate, agora o desafio é não deixar a data passar em branco. A criatividade e a resiliência do povo tentam suprir a ausência do Estado, mas até quando? Afinal, até as festas mais simbólicas estão se tornando um luxo para poucos.

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