Tarifaço dos EUA: Caiado busca solução com setores chave

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Governador Ronaldo Caiado reúne lideranças goianas para discutir impactos do tarifaço - Fotos: Walter Folador e Lucas Diener

 

Ao longo de dois dias, governador lidera uma série de reuniões que discutem estratégias para proteger a economia e os empregos dos goianos

 

O governador Ronaldo Caiado recebeu, nesta quarta-feira (23/7), lideranças dos setores da saúde, do agronegócio, mineração, soja e cítricos para dialogar sobre estratégias que possam mitigar o impacto do tarifaço de 50% anunciado pelos Estados Unidos para o Brasil. As reuniões ocorreram um dia após o lançamento de linhas de crédito em apoio ao empresariado. Goiás foi o primeiro estado a tomar medidas efetivas com o objetivo de proteger a economia e os empregos.

 

“Foi um dia com bastante reuniões e com resultados positivos no sentido de trabalhar e achar canais de diálogo para diminuir essa carga tributária”, frisou o governador de Goiás. Para ele, a diplomacia é a saída para a iniciar a conversa com o governo americano. “Vamos usar da articulação, como tenho feito, para ampliar essa discussão no sentido de mostrar que somos parceiros”, completou.

 

Caiado afirmou que a preocupação comum aos setores é a adoção, por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da reciprocidade tarifária, o que causaria a escalada de uma grave crise econômica e social. Para ele, o Brasil sofre consequências de uma polarização política. “Precisamos trabalhar para que essa taxa não venha impor ao Estado de Goiás uma penalização que não tem nada a ver. O que nós vamos sofrer, em decorrência de uma briga ideológica que está acontecendo neste momento?”, questionou.

 

“Nós somos aliados da livre iniciativa, da economia de mercado, da liberdade de expressão. Então, se a posição do presidente da República é provocativa aos americanos, não é por isso que Goiás ou outros estados tenham que ser penalizados”, argumentou. “Essa posição é do Lula, e não nossa [dos governadores]. Nós queremos acordo, diálogo. Queremos deixar os empresários trabalharem e garantir o emprego dos trabalhadores. Manter a condição de o Estado arrecadar e fazer jus à demanda da população, com saúde, educação, segurança, programas sociais, infraestrutura e tudo mais”, completou Caiado.

 

Fármacos e saúde

Na primeira reunião, lideranças do setor de fármacos e da saúde apontaram as consequências desastrosas de uma eventual reciprocidade tarifária. Isso porque grande parte de equipamentos ou insumos têm origem ou controle americanos. Caiado, inclusive, pediu um “gesto humanitário” por parte do governo americano para excluir a saúde do tarifaço. “É o sentimento de todos que vieram à reunião, já que coloca em risco a vida de pessoas”, frisou o governador.

 

“Em torno de 30% dos custos relativos aos hospitais estão relacionados a insumos, materiais e medicamentos. A estimativa é que, se houver retaliação, aumente na ordem de 2 a 3% o custo total dos hospitais. Pode ser a diferença entre a sustentabilidade do hospital, ou não”, afirmou o secretário da Saúde, Rasivel dos Reis. Conforme explicou, tal cenário mostra o risco do fechamento de unidades de saúde, o que pode sobrecarregar o sistema.

 

CEO da Halex Istar, Thiago Salinas deu o exemplo de como uma reciprocidade tarifária afetaria o soro fisiológico, que é um dos insumos mais utilizados na saúde. “O principal custo está na embalagem, e ela é vinda diretamente dos Estados Unidos”, alertou. O empresário ainda comentou sobre os entraves regulatórios: a troca de fornecedor de embalagens poderia levar anos até ser autorizada. Já o presidente da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg), Renato Daher, indicou o risco de “desabastecimento de alguns produtos estratégicos, como equipamento de imagem e OPME [Órteses, Próteses e Materiais Especiais]”.

 

Carne, Derivados e Pescados

No encontro com representantes do agronegócio, foram discutidas as consequências da taxação anunciada por Donald Trump que causarão impacto imediato no setor. “Estamos nos preparando antecipadamente, tomando medidas ao invés de começar a discutir só a partir de 2 de agosto. Somos o único Estado que está preparando um plano”, enfatizou Caiado sobre as linhas de crédito apresentadas na última terça-feira (22).

 

Ao todo, o governador lançou três medidas: o Fundo Creditório, que apoiará os segmentos da economia goiana que mais exportam para os Estados Unidos; o uso do Fundo de Equalização para o Empreendedor (Fundeq), que fornece recursos financeiros para subsidiar o pagamento de encargos em operações de crédito; e do Fundo de Estabilização Econômica do Estado de Goiás, uma reserva financeira que pode ser utilizada em momentos de crise econômica para garantir a continuidade de serviços essenciais.

 

Mineração, soja e cítricos

Representantes do setor de minérios expuseram que o segmento já enfrenta os impactos do possível tarifaço, com cancelamento de exportações. “Conseguimos colocar com bastante clareza como a tarifação atinge frontalmente a mineração e entendemos que a proposta de abrir linhas de crédito e criação de uma ouvidoria para os problemas que virão é extremamente útil. Vamos conseguir melhorar as consequências tão nefastas desse tarifaço”, avaliou o presidente do Sindicato das Indústrias de Mineração de Goiás e do Distrito Federal (Minde), Luiz Antônio Vessani.

 

Para ele e o representante da Brasil Minérios, Lucas Campos, uma das principais preocupações é em torno da exportação de vermiculita, mineral com diversas aplicações industriais e agrícolas. “Do total que exportamos, 60% é para os Estados Unidos, que utilizam na construção civil. buscado diálogo com agências de fomento de lá, que agora estão frias e fica difícil a conversa por conta do tarifaço”, relatou Curado.

 

Agricultura e Pecuária
O presidente da Associação dos Produtores de Soja de Goiás (Aprosoja Goiás), Clodoaldo Calegari, relatou que os reflexos nas exportações de carnes atingem diretamente o segmento, que produz a base da formulação de ração para essa cadeia. “Mas tudo ainda demanda um estudo mais aprofundado de quão longe vai esse impacto”, reconheceu. Ele também externou preocupação com importação de máquinas e seus componentes, caso haja tarifação recíproca, e citou que no setor da agricultura a situação é mais complicada com tarifaço porque a produção, em razão do clima, já teve margens achatadas ou até negativas na atual safra.

 

O vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás, Eduardo Veras, relatou efeitos indiretos para o setor de cítricos, já que o estado exporta laranja para São Paulo e Minas Gerais, que podem parar de comprar caso o envio do produto aos EUA seja afetado. No entanto, a maior preocupação é com relação ao café. No primeiro semestre de 2024, Goiás exportou U$$ 50 milhões. “Os Estados Unidos representam 16% do produto que nós exportamos. Os produtores goianos terão reflexos diretos no caso dessa taxação”, adiantou Veras.

 

Ao final do encontro, o governador disse que o conselho inaugurado com essas reuniões ficará aberto sempre que houver necessidade para discutir soluções. “Serão sempre encontros por cada setor. Acho que foi mais inteligente porque conseguimos definir bem a preocupação de cada um”, destacou. A rodada de reuniões segue nesta quinta-feira (24/7) com o segmento de sucroenergético.

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