Por Carlos Arouck
O depoimento de Mike Benz ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA e atual diretor da Foundation for Freedom Online à Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara, nesta terça-feira (6), reacendeu o debate sobre a soberania brasileira e levantou sérias suspeitas sobre interferência externa nas eleições presidenciais de 2022.
Benz alegou que o governo Biden teria coordenado uma operação envolvendo a CIA, Pentágono, Departamento de Estado, USAID e até a Casa Branca, com o objetivo de evitar a reeleição de Jair Bolsonaro e garantir a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, essa operação teria incluído financiamento a ONGs, veículos de mídia e agências de checagem de fatos no Brasil, além de parcerias estratégicas com o TSE e setores do Judiciário.
Apesar de não apresentar provas materiais de manipulação direta do resultado eleitoral, Benz apontou documentos públicos, contratos e conexões institucionais como evidência de uma possível aliança entre autoridades norte-americanas e brasileiras para controlar a narrativa eleitoral. Agências como Lupa, Aos Fatos e a coalizão Comprova foram citadas como entidades beneficiadas por repasses externos, com a missão de censurar vozes conservadoras nas redes sociais.
Entre as denúncias mais concretas está o suposto uso de recursos da USAID e da NED (National Endowment for Democracy) para financiar projetos no Brasil voltados ao “monitoramento de desinformação”, especialmente durante o período eleitoral. Se confirmados, os valores e contratos podem configurar violação à legislação brasileira, que proíbe financiamento estrangeiro a campanhas e partidos políticos.
O ex-funcionário também apontou a cooperação do TSE com o think tank norte-americano Atlantic Council, e mencionou treinamentos oferecidos ao tribunal como parte de uma estratégia internacional de controle do “ambiente digital” brasileiro. Benz citou ainda a coalizão Design 4 Democracy, lançada pelo NDI (National Democratic Institute) após a eleição de Bolsonaro em 2018, como marco da intensificação das ações para “frear o avanço da direita” em países estratégicos.
Outra alegação levantada por Benz foi a de que componentes das urnas eletrônicas brasileiras teriam origem em empresas dos EUA e da Ásia o que, segundo ele, teria servido de base para pressões da CIA contra o governo Bolsonaro, para que este não contestasse o sistema eleitoral. O TSE refutou imediatamente a afirmação, destacando que os modelos UE2020 foram inteiramente produzidos pela Positivo Tecnologia no Brasil e que não houve qualquer interferência externa em sua fabricação.
A fala de Benz teve repercussão imediata. O deputado Filipe Barros (PL-PR), presidente da CREDN, classificou o depoimento como “bombástico” e anunciou a intenção de instaurar uma CPMI para investigar as acusações. Parlamentares da oposição, como Eduardo Bolsonaro e Sóstenes Cavalcante, sugeriram até a cassação do registro do Partido dos Trabalhadores (PT), sob o argumento de que teria sido beneficiado por verbas estrangeiras ainda que de forma indireta.
Apesar do forte impacto político, o depoimento de Benz carece de provas incontestáveis. As acusações se baseiam em conexões públicas, contratos documentados e interpretações de ações diplomáticas e institucionais. Já agências como Estadão Verifica e o próprio projeto Comprova negaram várias das afirmações feitas por Benz.
O contexto em que o depoimento ocorre também é simbólico. Cresce a tensão entre o governo Lula e setores da oposição que ainda questionam a legitimidade do pleito de 2022. Além disso, a declaração de Benz acontece no momento em que a USAID encerra formalmente suas atividades no Brasil, após críticas do ex-presidente Donald Trump, que acusava a agência de promover “ingerência ideológica” na América Latina.
Sem provas materiais que sustentem uma intervenção direta no resultado das urnas, o depoimento de Mike Benz ainda assim trouxe à tona indícios e conexões que merecem apuração séria. Ignorá-los por completo seria imprudente; tratá-los como verdades absolutas, irresponsável. Cabe ao Congresso e à imprensa investigar com equilíbrio, sem transformar questionamentos legítimos em teorias da conspiração — nem blindar instituições de críticas sob o pretexto da defesa democrática.