Crise entre Brasil e EUA se intensifica após os americanos revogarem o visto de Alexandre de Moraes. Lula reage a tarifas e acusa Trump de chantagem política e interferência na Justiça brasileira
Horas após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), impor tornozeleira eletrônica a Jair Bolsonaro, os Estados Unidos revogaram o visto do magistrado e anunciaram sua proibição de entrada no país. A decisão, revelada na noite de sexta-feira (18), foi divulgada pelo secretário de Estado americano, Marco Rubio, que acusou Moraes de liderar uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente brasileiro.
A medida marca um novo episódio da escalada diplomática entre Brasília e Washington, intensificada desde que Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado, passou a mobilizar apoio político nos EUA para barrar sanções contra o pai. Com o apoio do ex-presidente Donald Trump, a pressão incluiu ameaças de retaliação comercial, como a tarifa de 50% sobre exportações brasileiras, anunciada no início de julho.
Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o que chamou de “chantagem inaceitável” e disse que os EUA tentam interferir na Justiça brasileira. “Esse tipo de ação atenta contra a soberania nacional”, afirmou em rede nacional.
Apesar de Moraes ter sido o único citado nominalmente por Rubio, a restrição pode atingir outros integrantes do STF e seus familiares. O gesto é interpretado como resposta política à atuação da Corte no inquérito sobre tentativa de golpe de Estado liderado por Bolsonaro.
A ofensiva americana ganhou respaldo em setores conservadores e nas big techs. Empresas como Meta, Google e X pressionam contra decisões do STF sobre moderação de conteúdo. Trump, dono de uma rede social, acusa o Brasil de censura digital.
A tensão comercial também se ampliou: os EUA abriram investigação contra o Pix, sistema brasileiro de pagamentos, alegando que ele prejudica empresas americanas de cartão de crédito. Washington também questiona tarifas sobre etanol e acordos com México e Índia.
A articulação para punir Moraes inclui o uso da Lei Magnitsky, que permite sanções contra estrangeiros acusados de violações de direitos humanos. Embora ainda não tenham sido anunciadas penalidades financeiras, o governo Trump não descarta ampliar as restrições.
Em carta enviada a Bolsonaro, Trump afirmou que o julgamento do ex-presidente deve terminar “imediatamente” e chamou o STF de “regime de censura”.
Lula, por sua vez, prometeu recorrer à OMC, aplicar medidas de reciprocidade e reforçou que o Brasil continuará julgando seus próprios temas: “Aqui, quem manda somos nós. Vamos cobrar impostos, inclusive das plataformas americanas”, disse em evento da UNE.