Por Miguel Lucena
Não sei se foi o tempo que ficou velho ou se fomos nós que envelhecemos dentro dele. Só sei que, quando chega junho, uma saudade danada me aperta o peito, saudade do São João e do São Pedro que enchiam de vida as noites de Princesa.
Sinto falta do som da sanfona de Mané Tocador, que fazia o fole gemer na ponta da rua, puxando um xote, um baião, um arrasta-pé daqueles de rachar o chão. E de Xixica do Gavião, que tinha no peito um repositório infinito de cantigas e aboios, deixando qualquer tristeza envergonhada num canto.
Na Rua do Cancão, o fogo dos festejos de Pedro Fogueteiro iluminava bonecos batendo pilão, enquanto as bombas subiam aos céus e estouravam anunciando que ali morava a alegria. Era um ribombar que fazia até santo pular da parede.
As fogueiras acesas em frente às casas eram mais do que tradição — eram pontos de encontro, de conversa, de riso solto. O milho, assando no braseiro, se misturava ao cheiro da pamonha e da canjica, perfume de um tempo em que felicidade era coisa simples: um abraço, um forró, uma mão suada encontrando outra no meio da dança.
E o fole ainda geme, dentro da minha memória, consolando os que passaram a noite procurando o amor da vida e não encontraram… ou alegrando os que só queriam mesmo era se perder no xenhenhém da madrugada.
Junho chega, e com ele, a saudade. Saudade do São João, saudade de ser menino, saudade de tudo aquilo que o tempo não leva do coração.