A Associação dos Blogueiros de Política de Brasília e Entorno do Distrito Federal (ABBP) entrevistou, nesta terça-feira (23), a médica ginecologista Lucilene Maria Florêncio, da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, atual superintendente da Região de Saúde Oeste. Ela enfatizou as benfeitorias para o atendimento de saúde em Ceilândia nesse momento difícil de combate à pandemia da Covid-19 e o que deverá ser contemplado na pós-pandemia para garantir maior amplitude ao atendimento à população.
O Tudo OK Notícias questionou a doutora Lucilene Florêncio sobre a construção do hospital de Ceilândia em andamento. Serão mais de 60 leitos para atendimento aos pacientes infectados pelo coronavírus. No futuro, esse local deverá acomodar pacientes com estrutura voltada para o atendimento materno.
Ceilândia tem mais de 1 milhão de habitantes, não seria hora de convencer o governador abrir mão desse materno infantil e levar toda a estrutura para esse o novo hospital, para suprir as demandas que crescem a cada dia?
Na visão de Florêncio, Ceilândia carece de todos os equipamentos públicos. “O cuidado do mamando ao caducando. Eu diria desde a gestação ao idoso. Todos os equipamentos públicos aqui são necessários, dado o tamanho da população.”
De acordo com a superintendente, a expectativa é que os 63 leitos desse hospital acoplado, depois de vencida a pandemia, fiquem disponíveis à população como clínica médica, juntando-se aos 31 leitos de enfermaria e aos 24 do Pronto-Socorro da clínica médica do Hospital de Ceilândia de campanha, ao lado da UPA.
“Nosso governador já tem esse compromisso de [o hospital acoplado] ser um hospital materno-infantil. Eu diria que é valioso, porque Ceilândia disputa – uma disputa boa – com o Gama quem faz mais partos. Tem meses que é Gama, tem meses que é Ceilândia. Nós fazemos uma média de 500 partos por mês.”
De acordo com a ginecologista, a população do Pôr do Sol e do Sol Nascente é jovem, reprodutiva e carece de um hospital materno infantil. “Com modernidade e excelência. É uma necessidade e um compromisso do nosso governador Ibaneis Rocha”, acentuou.
“Eu, como ginecologista-obstetra, vou sonhar e vou querer e tenho certeza de que ganharemos a nossa maternidade. E, claro, em paralelo, os leitos de clínica médica que ficam no hospital acoplado”.
Florêncio acrescenta que as medidas de ampliação na Saúde contemplarão tanto a clínica médica como a unidade materno-infantil, assim como a UPA no atendimento intermediário, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e as clínicas de família. “A gente precisa de tudo aqui. Nós temos, mas precisamos de muito mais.”
Ceilândia e suas características
Sobre Ceilândia, Florêncio destacou as características nordestinas, as próximas relações entre os moradores, assim como o comércio informal. Por tudo isso, têm sido distribuídas máscaras em larga escala e são dadas todas as orientações. No entanto, a força da cultura e a união entre as pessoas – é muito calorosa a relação interpessoal – podem interferir nessa conscientização.
Ceilândia é universo à parte
Para Lucilene, é muito difícil chegar implementar o isolamento e as restrições de circulação em uma população com essas características. Ela contou que irá falar com o secretário da Saúde para traçar essa estratégia. É preciso entender que Ceilândia é um mundo à parte. Uma cidade com comportamento diferente.
“Talvez a gente precise ver nos grandes adensamentos populacionais do mundo, como nos países asiáticos e da Europa, ações que foram tomadas nesse estágio. Didaticamente, poderíamos dizer que estamos na fase dois da pandemia. A fase um é até 50 dias após o primeiro caso oficial, que no Brasil foi em fevereiro. Hoje estaríamos com mais de 100 dias do primeiro caso”, disse.
Novas estratégias
Segundo ela, agora é preciso traçar estratégias para que os casos novos sejam isolados e os contactantes sejam acompanhados. Há certeza por parte da superintendente de que a Secretaria de Vigilância a encaminhar no sentido do isolamento e de proteger determinados locais, onde a gente tem maior número de casos. É possível fazer isolamento setorizado.
“Naquela quadra, naquela rua. Paralisar os locais em que o mapa de calor está mais ativo, onde o georreferenciamento ainda não mostrou que ali está tendo grande número de casos. Calculamosum raio de 1 Km. Quando começa a ter mais de oito casos, dizemos que é uma área quente. Uma área vermelha que já está gerando preocupação.”
Isolamentos setorizados
A partir do estudo em parceria com a Universidade Nacional de Brasília (UNB) e desse mapa de calor, é possível traçar, com o GDF, isolamentos setorizados em locais específicos, a fim de se quebrar a cadeia de transmissão.
“Com certeza, Ceilândia vai ter um olhar diferente e já está tendo”, afirmou Florêncio, lembrando que foi montado um gabinete da Secretaria de Saúde na cidade. “Além disso, ocorreram ampliação de cargas horárias de servidores para reforçar o trabalho.”
Ela contou que, no momento em que chegou ao Hospital de Ceilândia, havia 136 profissionais de saúde infectados. Na atenção primária de saúde, hoje, há 202 servidores. “É um exército que vem sempre sendo contaminado. E, aí, precisamos repor essa força de trabalho para poder continuar cuidando de quem chega na porta”, ponderou.
Florêncio não perde de vista que é preciso ir também ao nascedouro e quebrar a cadeia de transmissão, nas casas onde existem casos, e onde a cadeia de contaminação está presente. Também tornar a rede pública de assistência mais robusta. Além da assistência hospitalar de leitos e UTIs que são finitos. Daí a necessidade de ira aos nascedouros da corrente transmissoras.
Hoje esse é o grande desafio da Saúde do DF e de toda a equipe que trabalha com a doutora Florêncio, na qual estão mães e pais que têm que ser retirados do convívio familiar para “passar essa vontade que temos para cuidar do povo de Ceilândia. É um pouco visceral”. “A gente começa a amar, a ficar emotiva aqui. Existe um vínculo muito grande. Essa amorosidade na relação. Ceilândia é diferente”, avalia Florêncio.
Fotos: Equipe HRC