Ruptura com o Congresso Escancara Crise e Risco de Colapso do Governo Lula

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Foto: Ricardo Stuckert / PR

 

Por Carlos Arouck

A mais recente pesquisa Genial/Quaest, divulgada em 2 de julho de 2025, confirma o cenário que já se desenhava nos bastidores de Brasília: o governo Lula entrou em rota de colisão com o Congresso Nacional. O levantamento, realizado entre 7 de maio e 30 de junho com 203 deputados federais (cerca de 40% da Câmara), escancara o isolamento político do Planalto. Segundo os dados, 51% dos parlamentares avaliam negativamente a relação com o Executivo; apenas 18% a consideram positiva, e 30% a classificam como regular. O governo perdeu sua base e a confiança de setores independentes.

O estopim da crise foi a derrubada do decreto que prorrogava a alíquota reduzida do IOF sobre operações de crédito, em junho. A derrota não foi apenas simbólica: evidenciou o esvaziamento da articulação política e o descontentamento generalizado com o ritmo lento da liberação de emendas parlamentares, sobretudo no Centrão. Dos bilhões prometidos, apenas R$ 776 milhões foram empenhados no primeiro semestre cifra considerada irrisória para um bloco que sustenta sua lealdade nos repasses orçamentários.

A resposta foi imediata. Partidos como PP e União Brasil já sinalizam distanciamento e se reposicionam com foco nas eleições de 2026. A lógica é eleitoral: ninguém quer estar vinculado a um governo em queda. O Planalto, percebendo a erosão da base, tenta reverter o cenário com propostas simbólicas, como o imposto sobre grandes fortunas. Mas não encontra eco. Um Congresso cada vez mais hostil rejeita a pauta econômica do Executivo: 57% dos deputados veem baixas chances de aprovação das propostas do governo, e esse ceticismo sobe para 73% entre os parlamentares independentes.

A situação é ainda mais crítica entre os independentes: a reprovação ao governo saltou de 20%, em 2023, para 44%, enquanto a aprovação caiu de 18% para apenas 8%. O Planalto não perdeu só os aliados perdeu também o meio do campo.

A crise institucional se agrava com a decisão do governo de judicializar o impasse do IOF no Supremo Tribunal Federal (STF). Ao apelar ao Judiciário para resolver o que perdeu no Congresso, o Planalto amplia o desgaste político e tensiona a relação entre os Poderes. A própria pesquisa revela que 51% dos deputados veem a relação entre Congresso e STF como negativa, e 49% consideram que o Supremo invade as prerrogativas do Legislativo.

O desgaste da Presidência se soma a uma perda de autoridade. Hoje, estima-se que o governo conte com o apoio formal de apenas 100 deputados número insuficiente até mesmo para barrar projetos contrários. Além disso, 69% dos parlamentares afirmam que o Executivo dá pouca atenção ao Congresso, o que alimenta a percepção de desprezo institucional e ajuda a explicar a onda de derrotas.

Apesar disso, há consenso em torno de algumas propostas populares, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil — medida que conta com apoio de 88% dos deputados (97% entre governistas e 20% entre opositores). Mas a aprovação dessa pauta se dá apesar do governo, não por sua liderança.

Enquanto isso, a popularidade do presidente segue em queda livre, sustentando-se abaixo dos 25% de aprovação — o pior índice desde o início do mandato. A avaliação positiva entre os parlamentares é de apenas 27%, o menor percentual registrado até agora. O governo Lula se aproxima de um ponto de colapso funcional: sem articulação, sem base sólida, sem apoio popular e com uma agenda legislativa travada.

O modelo de “presidencialismo de coalizão” virou “presidencialismo de colisão”. O Executivo já não lidera, e o Legislativo opera como contrapoder. O resultado é um sistema disfuncional, onde o governo parece atuar no automático, sustentado por promessas antigas, métodos esgotados e um Judiciário transformado em tábua de salvação.

Por fim, enquanto o presidente da Câmara, Hugo Motta, ostenta 68% de aprovação entre os deputados e fortalece seu protagonismo, o presidente da República se vê acuado, isolado e politicamente desidratado. O mandato, que começou com o discurso de reconstrução e unidade nacional, caminha para um desfecho marcado por derrotas legislativas, judicializações arriscadas e o risco concreto de irrelevância histórica.

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