Por Miguel Lucena
Se alguém recebe dos médicos a sentença de que só tem alguns meses de vida, pode decidir que o mundo inteiro acabará junto com o seu prazo. Passa a ver cada pôr do sol como o último e, tomado de zelo apocalíptico, anuncia aos quatro ventos que chegou o fim das épocas, e que não será mais com água, mas com fogo, que tudo se encerrará.
Do mesmo modo, quem afunda financeiramente pode jurar que não existe salvação para ninguém. A crise pessoal vira profecia coletiva, e cada padaria fechada parece confirmar a tragédia.
O pior é quando quem não está morrendo nem quebrado compra essa história e se torna discípulo dessa “verdade”. Aí, a realidade paralela deixa de ser refúgio e vira doença contagiosa — e não há vacina contra delírios compartilhados.