Por Miguel Lucena
Na política brasileira, já virou tradição: o parlamentar sua, articula, corre atrás da emenda, bota a mão na massa, mas, na hora do holofote, quem aparece é o periquito de terno e celular na mão.
A cena se repete de Norte a Sul. Uma praça é reformada, a iluminação de LED acende, o asfalto desce na rua de barro, e lá está o sujeito — que mal sabe a diferença entre convênio e convicção — fazendo uma live em frente à obra:
— Mais uma conquista do nosso grupo político! — diz ele, como quem anuncia a chegada da primavera.
É o velho ditado: papagaio come milho e periquito leva a fama. Só que agora com filtro no Instagram e música de fundo motivacional.
Enquanto isso, o verdadeiro autor da façanha segue trabalhando, porque sabe que formiga não canta: carrega folha. Já a cigarra, essa sim, vive afinada, de microfone em punho, sempre pronta pra colher os aplausos — mesmo que tenha chegado depois da banda.
Fica o aviso: na próxima eleição, que o povo saiba quem realmente trabalhou e quem só passou pra fazer pose com a pá dos outros.