PENÚLTIMO EPISÓDIO: O COXO, OS MAGOS, A ESCOLA E O TRABALHO

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Direto de Brasília-DF.

 

Por Judivan Vieira

Erasmo de Roterdã, um dos maiores educadores do mundo disse que jamais devemos dar conselhos a quem não pede. Não entenda como conselho, esta reflexão que ofereço hoje, mas como um sinal posto na estrada onde o carro da tua vida obrigatoriamente tem de passar.

Orientei e aconselhei alunos por mais de duas décadas, orientei alunos graduandos de TCC – Trabalho de Conclusão de Cursos, mestrandos e doutorandos, somados os tempos em que lecionei em escola secundária, cursos preparatórios para concursos e faculdade de Direito, familiares e pessoas queridas que em algum momento passaram por minha vida. Alguns, a tornaram melhor.

Pois, bem! Havia numa cidade um indivíduo que era coxo, ou seja, andava com o corpo torto e sem equilíbrio por ser seriamente deficiente de uma das pernas. Diariamente pedia esmolas em frente a um templo por julgar que ali haveria de haver pessoas misericordiosas, que em nome de Shiva, Alá, Krishna ou Jeová pudessem ajudar.

– Uma moeda, pelo amor de algum deus… suplicava ante os olhos dos que passavam.

Assim, o coxo passava seus longos e caóticos dias até que às três horas de determinada tarde, o universo se alinhou com seu sofrimento e fez com que dois magos, muito, mas muito mais poderosos que o Doutor Estranho, parassem a observar o templo, as pessoas, e o que cada um fazia.

Naquele exato momento alguns amigos solidários e empáticos trouxeram o coxo de nascença para o lugar onde tradicionalmente esmolava. O puseram diante da frente da porta do templo para forçar misericórdia e compaixão nas pessoas que obrigatoriamente por ali haviam de passar, antes de adorarem seus deuses.

Os dois Magos, muito, muito mais poderosos que o Doutor Estranho observaram o  ritual, aguçaram seus ouvidos com a audição mais poderosa que a do Superman e a inteligência, muito, muito mais aguçada que a de Batman e do Homem de Ferro e ouviram o pedido do coxo:

– Uma moeda, pelo amor de algum deus…

Então, os dois sábios subiram as escadarias do Templo de Apolo, em Delfos, cidade considerada o umbigo do mundo,  e resolveram interagir com o coxo. Quando o sofrido pedinte viu aos dois magos e os olhou com o tradicional olhar “pidão”, os sábios fitaram o fundo de seus olhos e disseram:

– Olha para nós!

O coxo vendo-os bem vestidos estendeu a mão e suplicou por ajuda, esperando sentir o tato de alguma moeda na pele macia de sua mão. Ao invés, os magos disseram:

– Olha, não temos prata nem ouro, mas o que temos isto te damos. Então, cada um tomou uma das mãos do coxo e o fez levantar curado e pronto para andar.

O coxo ao sentir suas pernas firmarem pulou e gritou de alegria por uns minutos. Agradeceu muito e beijando suas mãos os abraçou demoradamente. Os dois sábios outra vez olharam no fundo de seus olhos e seguiram caminho.

Passados alguns meses os dois magos, muito, muito mais poderosos que o Doutor Estranho, com a audição mais poderosa que a do Superman e a inteligência, muito, muito mais aguçada que a de Batman e do Homem de Ferro chegaram na cidade de Aswan, Sul do Egito e para surpresa viram o mesmo coxo esmolando nas escadarias do templo.

Os dois magos aproximaram-se e perguntaram ao que era coxo, o porquê de voltar a esmolar.

O coxo respondeu:

– Depois que vocês me curaram percebi que para andar com minhas próprias pernas a vida ficaria muito mais difícil que parasitar a vida alheia. Os amigos diziam que eu deveria ir para a sala de aula estudar para ser “alguém na vida”. Ocorre que a palavra “sala” me lembra lugar de descanso e não de trabalho. Quando lá cheguei e vi que tinha de estudar muito e a muitas disciplinas e por muitos dias, e que depois, ainda teria de ser estagiário ganhando pouco, e depois gastar sola de sapato e dos pés entregando  muitos currículos para, então, começar uma carreira profissional e crescer gradualmente…

– Mas, e as pernas entrevadas, interromperam os dois magos. Como faz para fingir ao povo que é coxo?

– Ah, isto? É fácil. Finjo que sou manco, invento uns traumas de infância, simulo umas síndromes, tatuei algumas feridas na pele e, tá de boa!

– E, as pessoas acreditam em você? Perguntaram os magos.

– Admira-me vocês dois, muito, muito mais poderosos que o Doutor Estranho, com a audição mais poderosa que a do Superman e a inteligência muito, muito mais aguçada que a de Batman e do Homem de Ferro, não perceberem que a maioria das pessoas tem olhos, mas não veem, ouvidos, mas não ouvem, e cérebro, mas não racionalizam a vida.

Os magos se entreolharam e disseram; – Oh! Mago dos magos, jamais havíamos encontrado alguém como tu. De hoje em diante somos teus servos.

E, assim, os magos assentaram-se e foram esmolar com o coxo, ou melhor, “quase coxo”.

Qual o moral dessa história?

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