“Das famílias nasce o futuro dos povos”, lembra durante a homilia
Por Simone Salles
Na manhã deste domingo, 1º de junho, quando celebra-se a Ascensão do Senhor, a Praça São Pedro se transformou em um grande altar da esperança e do amor. Cerca de 70 mil fiéis se reuniram para a Santa Missa presidida pelo Papa Leão XIV, por ocasião do Jubileu das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos. Na homilia, o Santo Padre ressaltou que a família é o coração pulsante da fé cristã e o berço do futuro da humanidade.
Segundo o Pontífice, é na família que a fé se torna viva e concreta. Ali, “a fé é transmitida como o alimento da mesa e os afetos do coração”. Mas Leão XIV foi além e destacou que a família não apenas ensina a fé, mas é o lugar onde a presença de Cristo se revela de forma cotidiana, silenciosa e transformadora. Trata-se, como afirmou, de um “lugar privilegiado para encontrar Jesus, que nos ama e quer sempre o nosso bem”.
Inspirado pelo Evangelho do dia (Jo 17, 20), no qual Jesus reza pela unidade dos seus discípulos, Leão XIV traçou um paralelo entre essa unidade divina e a comunhão familiar. A oração de Cristo pela unidade – “para que todos sejam um” – foi interpretada pelo Papa como um chamado para que as famílias sejam espaços de comunhão autêntica, de perdão e de reconciliação, refletindo a própria Trindade.
A homilia não ignorou as feridas da realidade atual. Leão XIV reconheceu que, em muitos casos, a liberdade tem sido usada para dividir e ferir, e não para acolher e cuidar: “… cada vez que se invoca a liberdade não para dar a vida, mas para tirá-la; não para socorrer, mas para ofender”. No entanto, lembrou que o amor de Deus é anterior a tudo e é capaz de curar todas as feridas. “Deus não ama menos, ama por primeiro”, disse, explicando que o Pai ama cada um de nós como ama o próprio Filho. Esse amor gratuito, afirmou o Papa, é o fundamento sobre o qual se constrói uma família forte e duradoura.
O Papa também celebrou com alegria um sinal dos tempos: a crescente beatificação e canonização de casais, juntos, como exemplos de santidade conjugal. Citou os santos Luís e Zélia Martin, pais de Santa Teresinha, os beatos Beltrame Quattrocchi e a família mártir Ulma, como testemunhos vivos de que o matrimônio cristão é caminho de santificação, missão e entrega ao outro. Segundo ele, essa realidade mostra que a aliança conjugal é necessária para o mundo redescobrir o amor de Deus em sua forma mais concreta.
Leão XIV dirigiu palavras especialmente tocantes aos cônjuges, aos filhos e aos idosos, sublinhando que o casamento não é um ideal inalcançável, mas a regra do verdadeiro amor. “O casamento é amor total, fiel e fecundo”, afirmou, chamando os pais a educarem pelo exemplo e os filhos a agradecerem pela vida recebida. Ele explicou que os pais devem ser coerentes e se comportar como desejam que seus filhos se comportem. Defendeu, ainda, a educação dos filhos para a liberdade por meio da obediência. Aos avós e idosos, pediu que continuem sendo guias silenciosos, transmitindo sabedoria com paciência e ternura.
O Papa convocou todos a serem “um”, mesmo nas diferenças, vivendo a unidade que nasce do amor. Disse: “Se nos amarmos assim, sobre o fundamento de Cristo, seremos sinal de paz para todos na sociedade e no mundo”.
A mensagem de Leão XIV ecoa como uma resposta à fragmentação dos laços afetivos e à crise das relações humanas. Ele deixou claro que a família, vivida com autenticidade cristã, é semente de reconciliação, escola de fé e projeto de futuro, a resistência contrária às forças desagregadoras. E, como afirmou com convicção, é dela que brota o futuro dos povos.