Dinheiro público e militância: Ministério da Saúde financia estrutura em acampamento indígena no centro de Brasília
Enquanto o centro de Brasília é palco de congestionamentos e transtornos causados pela 21ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), que ocorre desde segunda-feira (7) e vai até sexta (11), o que não passou despercebido foi o luxo visível na entrada do evento: SUVs e caminhonetes novas chamam atenção logo de cara — indícios de que, ao contrário do discurso, falta de recursos não é um problema para a mobilização.
O evento, organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), recebeu R$ 100 mil de verba pública, por meio da Agência Brasileira de Apoio à Gestão do SUS (AgSUS), órgão vinculado ao Ministério da Saúde. O repasse foi formalizado para financiar a chamada “Tenda de Cuidados e Ancestralidade”, montada no acampamento, segundo documento revelado pela coluna de Cláudio Humberto, do Diário do Poder.
O contrato foi assinado por André Longo Araújo de Melo, presidente da AgSUS, com histórico de ligações com o Partido dos Trabalhadores. Em 2018, Melo doou para a campanha de Alexandre Padilha (PT-SP), atual ministro da Saúde e seu superior direto.
A presença do governo federal no financiamento de um evento com evidente teor político levanta questões importantes: até que ponto o Estado deve financiar manifestações ideológicas? Qual o critério técnico que justifica o envio de recursos da saúde para atividades paralelas ao atendimento da população? Em meio a um sistema de saúde pressionado, investimentos simbólicos podem servir mais a interesses partidários do que às reais necessidades da população.
A mistura de militância, aparato de luxo e dinheiro público expõe, mais uma vez, a fragilidade dos critérios de repasse de verbas federais, e reforça a percepção de que certas pautas são instrumentalizadas com o aval e o financiamento do próprio Estado.