Falta de interlocução com secretários estaduais da Fazenda e medidas consideradas inócuas para conter a crise econômica acentuaram a decepção com o ministro.
Não foram só os disparates do presidente Jair Bolsonaro que levaram a um inédito alinhamento de governadores de diferentes partidos políticos. A atuação do ministro da Economia, Paulo Guedes, também tem sido contestada pelos chefes dos Executivos estaduais em conversas privadas. Eles se dizem decepcionados com o desempenho da equipe econômica em meio à crise do coronavírus e com a sua total ausência de interlocução com os secretários estaduais da Fazenda.
“Decepção é a palavra certa para se usar. Esse é o sentimento de todos os governadores. Com o Bolsonaro não havia grandes expectativas, mas a paciência com o Guedes está quase no fim. Se você espremer o Ministério da Economia, o que sai de lá? Nada, é zero”, afirmou a VEJA, sob a condição de anonimato, um dos principais governadores do país e que até pouco tempo atrás defendia a política econômica do governo.
Os governadores já se queixavam da falta de empenho do Executivo Federal para levar adiante as reformas econômicas quando havia estabilidade para isso. Agora, com a pandemia ameaçando o mundo de uma recessão, eles avaliam que as respostas oferecidas por Guedes não serão capazes de minimizar os impactos econômicos que o coronavírus trará para os estados. Os secretários da Fazenda estão perplexos por terem de trabalhar sem ter nenhuma linha de comunicação aberta com a equipe de Guedes.
Numa tentativa de serem ouvidos, os 27 secretários da Fazenda encaminharam ao Ministério da Economia uma lista de pedidos emergenciais, como a suspensão do pagamento das dívidas dos estados por 12 meses e a liberação de recursos para as secretarias de Saúde. O envio da carta ocorreu na terça, 17, horas após o ministro anunciar um pacote de medidas contra o coronavírus. Os governadores avaliam que a injeção de 147,3 bilhões de reais na economia não será suficiente para os estados sobreviverem à crise.
Ao jornal O Globo, nesta quinta, 19, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), vocalizou a insatisfação dos seus colegas. “Nós não estamos falando de uma crise de 30 dias. Estamos falando de uma crise de seis meses. Os Estados Unidos estão colocando 1 trilhão de dólares na economia. Quanto o governo federal vai colocar?”, afirmou. (Veja)