Os primeiros passos de JK no Planalto Central

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Corria o ano de 1956. Poucos dias depois de o presidente Juscelino Kubitschek sancionar a lei que criava a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), um grupo de pioneiros chegou ao sítio Castanho, às margens do ribeirão do Gama, desbravando a mata e firmando as primeiras estacas da nova cidade.

Naquele mesmo ano, a bordo de um Douglas da FAB, o presidente JK desembarcou no aeroporto Vera Cruz, construído por Bernardo Sayão próximo ao Eixo Monumental no local que, muitos anos depois, daria lugar à Rodoferroviária. Pela primeira vez, pisou o solo do Planalto Central. Ele e sua comitiva chegaram à sede da fazenda Gama para conhecer as terras onde seria erguida a nova capital da República.

Vice-governador de Goiás à época, Bernardo Sayão recebeu o presidente JK no campo de pouso, onde foi realizada uma cerimônia durante a qual eles assinaram documentos e atos de nomeação. Em seguida, a comitiva presidencial foi conhecer o ponto mais alto da fazenda Bananal – atualmente, a Praça do Cruzeiro – e as terras da fazenda Gama, a cerca de 40 quilômetros de distância. Ali foi instalado o Núcleo Pioneiro.

Primeira caminhada

Na fazenda Gama, onde seria construída a residência provisória de JK, o grupo foi recebido pelo governador de Goiás, Juca Ludovico, e pelo governador da Bahia, Antônio Balbino, entre outras autoridades. A convite do presidente da Comissão de Cooperação para Mudança da Capital, Altamiro de Moura Pacheco, JK e o deputado Israel Pinheiro caminharam até a nascente d’água, a uns 200 metros da casa.

Ao retornarem do passeio, eles tomaram o café produzido na própria fazenda, servido por Zenaide Barbosa dos Santos, ao lado de quem posaram para uma foto histórica. Ao fim do dia, a comitiva presidencial voltou ao Rio de Janeiro, deixando, nas terras da fazenda Gama, o marco simbólico da transferência da capital da República para o Planalto Central.

Com mais de 160 hectares, a fazenda tinha como proprietário Agostinho de Almeida e Silva, herdeiro das famílias Roriz e Meireles, e foi uma das desapropriadas, em 1955, para dar origem ao Distrito Federal. “A partir dessa visita, JK decidiu que ali queria descansar e pernoitar durante a construção da nova capital; posteriormente, foi feita a demarcação de onde seria o Palácio do Catetinho”, conta a gerente do Museu do Catetinho, Artani Grangeiro.

Imagens dos anos 1950, como a que mostra o presidente JK tomando café servido por dona Zenaide Barbosa dos Santos (foto maior, junto à mesa e aos utensílios, também da época), servem aos visitantes a história viva do local

Casa velha

Localizado a cerca de 400 metros da fazenda, o museu foi a primeira edificação do período da construção de Brasília. “Ele [o museu] conta a história a partir de 1956”, pontua Artani. “Antes disso, ela é retratada na casa velha da fazenda Gama. Daí a importância dessa edificação”.

A construção é típica dos séculos 18 e 19, com traços arquitetônicos do período colonial brasileiro. A estrutura é de madeira, com vedações em adobe, enquanto as telhas de barro foram feitas em estilo francês. O prédio é um raro testemunho histórico dessa época que ainda resta.

Nos cômodos da antiga residência, onde hoje funciona o Museu Casa Sede da Fazenda Gama, é possível fazer uma viagem pelo tempo e “se transportar” para antes da construção da capital federal, passando pelas tradições culturais, religiosas e indígenas existentes na região à época.

Registros

No acervo, destaca-se a primeira foto de JK nas terras do Planalto Central, tomando café. Também há imagens de Guiomar de Arruda Câmara, membro da missão Cruls, que estudou e delimitou o quadradinho onde hoje é o Distrito Federal; e do maestro Tom Jobim com o poeta Vinícius de Moraes. Esses foram incumbidos por JK de escrever, em dez dias, uma peça clássica falando sobre a construção de Brasília e a bravura dos pioneiros que ergueram a cidade – nascia, assim, a Sinfonia da Alvorada.

No local há ainda outros registros importantes, como JK na nascente da fazenda onde foi construído o Catetinho. Também chamam atenção quadros e fotografias mostrando a simplicidade das famílias do interior goiano, além de objetos da época comuns aos quartos de solteiro e de casal, como bacia e jarra, mesa, baú, mala, armário, lamparina e o urinol, usado embaixo de uma cama rústica de madeira com estrado feito de couro bovino.

Utilizado exclusivamente no quarto de casal, o tecido de chita no teto amenizava os ruídos da intimidade e prevenia e entrada de insetos, aves e morcegos. Do lado de fora, destacam-se o mosaico de azulejos, representando o momento em que o presidente toma cafezinho servido por dona Zenaide, e o busto sobre as cinzas do médico Ernesto Silva, outro pioneiro que acompanhou a construção de Brasília.

Após a restauração, o mobiliário, o piso e as paredes da casa remetem aos tempos em que Brasília era um projeto a começar

Na edificação também funcionaram um escritório da Novacap que deu apoio à construção da nova casa do presidente, uma escola e uma sala de telecomunicações para contatos com o Rio de Janeiro. Ali estava instalada a rádio Farol da Panair Brasil, cujos serviços ajudavam a oferecer melhores condições ao tráfego aéreo.

A gerente do Museu do Catetinho, Artani Grangeiro: “A partir dessa visita, JK decidiu que ali queria descansar e pernoitar durante a construção da nova capital”

 

Revitalização

Primeira residência oficial do ex-presidente Juscelino Kubitschek, o Museu do Catetinho, recém-restaurado e revitalizado, ganhará uma entrada para facilitar o deslocamento de moradores do DF e turistas. O Departamento de Estradas de Rodagem do DF (DER/DF) está construindo uma pista mais próxima para que os motoristas possam acessar o local pelo Brasília Country Club.

“Com o acordo de cooperação, pretendemos oferecer aos visitantes um panorama completo das origens do que depois veio a se tornar o Distrito Federal, desde o século 17 até a escolha do local e construção da nova capital”, explica o gerente do clube, Helder Aragão.  “Os dois museus contam histórias complementares. Nossa intenção é que as pessoas venham conhecer este patrimônio histórico e cultural de Brasília”.

Restauração

Em 2008, a casa-sede da fazenda Gama foi restaurada para visitação de turistas, mas muitos componentes ainda permanecem originais. Por lá ainda podem ser vistos parte do assoalho, alguns móveis, as panelas, o moinho, a torradeira de café, o bule, xícaras, canecas de esmalte, pratos e outros utensílios que estão na cozinha, além de uma parede de adobe – deixada para mostrar aos visitantes a rusticidade da construção.

Com recursos da Petrobras, a obra foi executada sob a supervisão do engenheiro Eduardo Cerqueira Pinto, a partir de um projeto dos arquitetos João Luiz Vallim Batelli e Vera Lúcia Braun Galvão.

Os trabalhos incluíram restauração e demolição de algumas paredes internas e o reforço em toda a estrutura da edificação, substituição do madeiramento do telhado, lavagem da telhas e aplicação de silicone, recuperação de parte do reboco, troca do assoalho, reconstituição do piso cimentado, construção de calçada em volta da casa, pintura das portas, janelas e portais na cor azul (original) e revisão das instalações hidráulicas e elétricas.

Com tanta história viva para contar, a casa-sede foi elevada à categoria de Patrimônio Tombado pelo Governo do Distrito Federal. No local, que faz parte da região atualmente demarcada como Setor de Mansões Park Way (SMPW), funciona o Brasília Country Club.

Museu Casa-Sede da Fazenda Gama

  • Visitação: de terça-feira a domingo, das 9h às 12 h e das 14h às 17h.  Entrada é gratuita.  Mais informações sobre as visitas podem ser obtidas pelo telefone (61) 3338.8563.

Agência Brasília/ Foto: Joel Rodrigues

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