Opinião: Falta de regulamentação no Brasil inviabiliza combate à venda de vape pirata

Compartilhar:
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Proibição irrestrita cede espaço para mercado paralelo de vaporizadores e cigarros eletrônicos (Divulgação)

 

 

Proibição irrestrita cede espaço para mercado paralelo de vaporizadores e cigarros eletrônicos, prejudica combate à venda de produtos falsos facilmente encontrados em lojas e camelôs e coloca consumidores sob risco

 

 

O vape tem ganhado força em diferentes países como alternativa aos cigarros tradicionais de nicotina para fumantes adultos, público-alvo desse produto – seja aos que desejam parar de fumar ou aos que buscam uma alternativa com menor risco potencial de danos à saúde1. Embora o conceito de redução de danos seja uma tendência na rotina dos consumidores em mercados como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Reino Unido, aqui no Brasil a venda desses dispositivos continua proibida de forma irrestrita por uma resolução da Anvisa de 20092. Mas, na prática, não é difícil encontrar vapes e cigarros eletrônicos sendo vendidos em muitos lugares – de camelôs a varejistas.

 

Esse fato, associado à grande procura dos consumidores adultos por esses dispositivos, chama a atenção para uma preocupação real que deve ser de todos – poder público, indústria, consumidores e até mesmo especialistas dedicados ao combate ao tabagismo: a venda de vapes falsos.

 

Infelizmente, assim como acontece em outros setores, também existem clones e pirataria à margem do que produz a indústria global de vapes e cigarros eletrônicos. Isso abre espaço para o avanço de um mercado paralelo que, na ausência de qualquer regulamentação, leva ao consumidor produtos fabricados sem nenhum compromisso com rígidos controles de qualidade e segurança – além de serem bem mais prejudiciais à saúde do que você imagina.

 

Uma marca de vape investigou e analisou a fundo o conteúdo dos vapes falsos. A conclusão foi que eles usam ingredientes com qualidade inferior, têm níveis excessivos de tolueno (líquido incolor com odor aromático) e teor de nicotina que não corresponde aos limites descritos no rótulo. Além de afetar a experiência de consumo do vape por fumantes adultos, produtos falsificados e sem origem comprovada podem ter sérias implicações na saúde dos consumidores.

 

Outras consequências estão ligadas a uma concorrência desleal que afeta a arrecadação e o crescimento da indústria legalizada em um contexto global. Isso não só impede a geração de empregos como também impõe barreiras à inovação – algo fundamental para levar ao mercado produtos cada vez mais seguros e capazes de ajudar fumantes adultos.

 

Aqui no Brasil, o Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCP) calcula que a pirataria gerou uma perda total de R$ 287,9 bilhões3 para o governo e a indústria nacional, somando os prejuízos sofridos por diversos setores industriais e a estimativa dos impostos que deixaram de ser arrecadados. Um valor que poderia ser revertido em benefícios para saúde (como o financiamento de programas de combate ao tabagismo e alternativas para redução de danos) e segurança pública – mas que hoje financia criminosos despreocupados com a qualidade dos produtos que chegam até o consumidor.

 

A regulamentação do vape no Brasil é essencial para que haja controle sobre a qualidade dos produtos vendidos no mercado. Além disso, parte do dinheiro arrecadado com impostos – algo que não acontece hoje, sem a legalização dessa indústria no país – poderia ser revertido de várias maneiras em benefícios para a população, inclusive em áreas como saúde e segurança pública.

 

Vale lembrar que o vape recentemente se tornou tema de debate na América Latina devido a uma recente decisão da Suprema Corte no México – que, em outubro de 2021, decretou que o produto deve ser legal do ponto de vista comercial. Enquanto milhares de consumidores, reguladores e especialistas acompanham essa discussão em todo o continente, a verdade é que a situação atual no Brasil faz com que a demanda pelo produto alimente o mercado paralelo. Algo que precisa mudar, a fim de oferecer uma alternativa segura para fumantes adultos, em busca de reduzir os danos sofridos por esse público.

 

Em todo caso, sem o amparo legal de uma regulamentação que poderia exercer controle sobre a venda de vapes e cigarros eletrônicos, qualquer pessoa que quiser evitar fraudes e falsificações pode tomar alguns cuidados.

 

É importante, por exemplo, observar bem o site oficial da marca para identificar as principais características de cor, embalagem, sabores disponíveis e outros itens presentes no rótulo, como o QR Code. Caso esses produtos sejam encontrados em lojas físicas, fique atento à reputação do estabelecimento e evite locais desconhecidos ou pouco confiáveis.

 

O debate sobre a possível regulamentação do vape e do cigarro eletrônico continua no radar da Anvisa. No Brasil ou no exterior, dentro ou fora de um ambiente regulamentado, é muito melhor e mais seguro se concentrar na compra de produtos fabricados e distribuídos por empresas reconhecidas. É preciso dizer não à pirataria – mas também é fundamental contar com o apoio e a compreensão das autoridades para combater o mercado paralelo.

*Manuel Carrasco é membro do Conselho de Administração da AsoVape (Associação Colombiana de Vapers)

Fontes:

1. Public Health England, “Cigarros eletrônicos são cerca de 95% menos prejudiciais do que o tabaco, estima revisão histórica”, 19/08/2015

 

2. Resolução da Anvisa Nº 46, de 28 de agosto de 2009, que “proíbe a comercialização, a importação e a propaganda de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar, conhecidos como cigarro eletrônico”.

 

3. Seção do site do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCP) focada no combate ao mercado ilegal.

Mais lidas

Ourocap lança edição especial de 30 anos c...
Brasil mantém altos índices de analfabetis...
Salários da saúde em pauta na LDO 2025
...