O som das mortes

Compartilhar:
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Foto: Ilustração

 

Por Miguel Lucena

Em Princesa, a vida e a morte andavam de mãos dadas com o alto-falante da Igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho. Quando João de Júlia morreu, no início dos anos 70, a voz que ecoava era de fé e despedida: “Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão”. Aquela melodia cortava o ar da Rua do Cancão como lamento e consolo.

Pouco tempo depois, em outra curva da década, Luiz de Brecha se afogou no Açude Jatobá II. Era tempo de romaria e rádio de pilha, e a canção que reinava era “Sou caipira, pirapora, Nossa Senhora de Aparecida”. A música, por ironia ou mistério, chegava como pano de fundo da tragédia.

Ainda menino, passei anos convencido de que as músicas eram feitas para eles. Era como se o céu tivesse um disco pronto para cada partida. Hoje, compreendo que quem morre em silêncio só é lembrado quando a vida resolve tocar a trilha sonora da nossa saudade.

Mais lidas

Sábado em Brazlândia: Fecomércio + Perto d...
PL-CE unido, garante Carmelo
PL-CE em conflito
...