Por Miguel Lucena
Marquei com um secretário de estado para almoçar na Embaixada do Piauí, ali na 313 Sul. O menu era direto e eficiente: galo ao pé. Cheguei no horário, mas a autoridade, como manda o figurino, atrasou. A fome não respeita protocolo, então fui logo me servindo como qualquer cristão: prato na mão, fila nas panelas, olho na carne mais suculenta.
Mal terminei de me sentar, chegou o secretário. O dono da Embaixada — figura ilustre da gastronomia candanga — saiu da cozinha como um foguete, guardanapo no ombro, sorriso no rosto. Foi direto à mesa da autoridade. Em segundos, dois garçons surgiram: um com pimenta artesanal, outro com vinagrete de cebola roxa, quase uma guarda de honra culinária.
Observei a cena, dei uma garfada no meu galo e comentei, entre divertido e resignado:
— O poder encanta.
E ali estava a diferença entre ser cidadão comum e um ente público: eu me servi. Ele foi servido. Até o vinagrete parecia mais fresco.