O novo Fahrenheit 451

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Foto: Divulgação

 

Por Miguel Lucena

Na distopia de Ray Bradbury, os bombeiros não apagavam incêndios — eles os provocavam. Tacavam fogo em livros, como se a literatura fosse epidemia. Hoje, não precisam mais fósforo nem querosene: basta um dedo nervoso no teclado e pronto, queimaram Shakespeare, Drummond e até Monteiro Lobato.

Nas redes sociais, brotam especialistas em tudo: de DNA de dinossauro a teoria literária aplicada à dancinha do TikTok. Se alguém cita Platão, aparece um indignado: “Que elitista! Por que não lê o Zé da Selfie, filósofo do Instagram?”.

A moda agora é cancelar quem pensa. Machado de Assis virou “problemático”, Clarice Lispector está “superestimada” e Guimarães Rosa? “Não entendi nada, deve ser ruim mesmo.” O novo bom gosto é não ter gosto algum, só opinião de 280 caracteres e vídeos com legenda em letras garrafais.

Antigamente, queimavam livros por medo do pensamento. Hoje, queimam o pensamento por medo dos livros. A fogueira é digital, mas a fumaça emburrece do mesmo jeito. E não tem bombeiro que salve.

Se Bradbury estivesse vivo, talvez dissesse: “Me devolvam o isqueiro, pelo menos era mais honesto.”

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