Por Miguel Lucena
O homem de meia idade saiu do banheiro do Brasília Shopping ajeitando o nó da gravata, ligeiramente arfante, como quem saiu de uma reunião com o FMI. A pergunta que pairava no ar – ou na cabeça dos observadores silenciosos do corredor – era: ele tirou a gravata para fazer algum esforço ou o esforço desatou a gravata?
Sabemos que a gravata, esse relicário do desconforto social, só é afrouxada por duas razões: ou por desespero ou por desejo. No caso, talvez ambos. Dizem que, quando o intestino ordena, nem o protocolo resiste. Há quem afrouxe o nó para respirar, outros para sobreviver.
Ali, de frente ao espelho, enquanto repunha a compostura e o Windsor mal-feito, o homem talvez filosofasse: “no fundo, todos somos gravatas desatadas tentando parecer laços”.” E saiu, agora digno, como se o banheiro fosse apenas uma sala de guerra vencida.
A gravata, afinal, estava novamente no lugar. O orgulho, esse sim, talvez tivesse ficado na cabine 3.