Por Carlos Arouck
O terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, iniciado sob o lema de “reconstrução nacional”, rapidamente perdeu a credibilidade, retrocesso e crise institucional. A figura do Lula que um dia mobilizou as massas parece hoje deslocado, encobrindo um governo em crise, moralmente desgastado e politicamente incoerente. Já não se trata de debate ideológico até setores historicamente simpáticos ao petismo reconhecem: o Brasil vive um colapso de liderança, de ideias e de prioridades.
A retórica da justiça social sucumbiu ao pragmatismo de gabinete. A política econômica, travestida de responsabilidade, preserva os lucros recordes dos bancos enquanto penaliza quem vive do salário. Os juros altos estrangulam o consumo, a inflação esvazia o carrinho do mercado, e a reforma tributária, longe de ser o avanço prometido, ameaça ampliar a desigualdade sob a sombra de uma burocracia cada vez mais hostil ao pequeno empreendedor.
O resultado é um paradoxo cruel: enquanto os grandes bancos celebram, o povo aperta o cinto. Lula, outrora símbolo da luta popular, hoje governa como fiador das elites que jurava combater. É uma inversão simbólica que define o fracasso moral do projeto petista.
No exterior, o Brasil voltou, sim mas como motivo de perplexidade. Lula coleciona declarações desastrosas: relativizou a escravidão, igualou agressor e vítima na guerra da Ucrânia, desdenhou democracias ocidentais e elogiou regimes autoritários. A política externa “ativa e altiva” virou, na prática, reativa e atabalhoada.
A imagem do Brasil, construída com esforço durante décadas, está sendo comprometida por improvisos e uma retórica desconectada das exigências diplomáticas contemporâneas. Num mundo em conflito, o país precisava de liderança. O que temos é um presidente que fala mais do que entende e entende menos do que deveria.
A coalizão de esquerda que deu sustentação ao retorno do PT ao poder está em frangalhos. Os movimentos sociais foram engolidos pela máquina estatal, silenciados por cargos ou ignorados pela lógica centralizadora do Planalto. A militância digital, antes engajada, hoje ironiza o governo que ajudou a eleger. A taxação de importados, o abandono de pautas ambientais e o distanciamento de agendas progressistas evidenciam a desconexão crescente entre o discurso e a prática.
Há, no ar, um sentimento de traição. Lula voltou ao poder prometendo justiça e diálogo, mas governa como se estivesse sitiado mais próximo de bancos e caciques partidários do que da sociedade civil que o sustentou nas urnas.
Os números divulgados pelo governo não traduzem a realidade das ruas. O PIB rasteja, o desemprego “oficial” ignora o exército de subempregados, e a inflação da cesta básica corrói o salário mínimo com eficiência matemática. O dólar dispara, o arroz vira símbolo da crise, e a solução do governo é taxar a classe média consumidora de plataformas internacionais, como se isso resolvesse um desequilíbrio estrutural.
Enquanto isso, bilhões são despejados em crédito subsidiado, emendas parlamentares e favores setoriais. A lógica é clara: alimentar a base fisiológica no Congresso, mesmo que à custa da sustentabilidade fiscal e da confiança do setor produtivo.
O discurso da transparência naufragou. Há sigilos inexplicáveis, escândalos abafados, e práticas antigas recicladas sob nova embalagem. O caso do INSS e dos consignados, com envolvimento de sindicatos, parlamentares e a máquina estatal, é um sintoma grave: indica que o velho Brasil clientelista, opaco, instrumentalizado voltou com força.
Promessas feitas em palanque se dissolvem na prática: o pobre voltou a ser taxado, o Congresso voltou a mandar, e o discurso de “governar para o povo” virou uma sombra retórica. A gestão Lula 3, até aqui, parece ser menos um governo e mais uma coalizão de conveniências que se equilibra sobre um castelo de areia política.
O governo Lula caminha para entrar na história como um governo sem projetos e sem rumo. Um governo que perdeu a conexão com o presente, que traiu o seu passado e que não oferece perspectiva de futuro. A reconstrução prometida se converteu em estagnação; o estadista em declínio.
Carlos Arouck é jornalista independente e analista político.