Por Miguel Lucena
Era uma terça calorenta na agência bancária da Asa Sul quando Rosibesta, mulher de quase 1,80m, pernas torneadas e cílios mais compridos que fila de banco, entrou carregando um bebê rebourn nos braços como quem carrega um anjo recém-parido. Sentou-se, puxou uma mamadeira térmica e apertou a boca de silicone do boneco, que começou a “sugar” o leite com um barulhinho de ventosa de banheiro.
A fila parou. Homens, aposentados e servidores em desespero de causa, largaram suas senhas como quem larga tudo por um amor de verão. Neco Rato, do Cruzeiro, ajeitou o boné, passou desodorante de bolso e se ofereceu:
— Quer ajuda pra apertar a boquinha dele?
Rosibesta sorriu como quem sabe o poder que tem, e disse que o pai do rebourn era um bonequeiro francês. Disseram que em Brasília já tem rebourn na creche e outro nomeado em cargo comissionado.
A maternidade fake virou performance e a agência, um teatro da nova solidão.