O ANO DA ESPERANÇA

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Novo ano e uma nova esperança na política brasileira, em particular no Distrito Federal, o lugar cuidadosamente projetado por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa para ser uma espécie de exemplo de inovação, de cultura, de transformação e progresso ao resto do país. Mas que, ao longo dos anos, assistiu a utopia entregar-se a uma realidade igual a de tantas outras unidades de uma federação agonizante, cuja premente indagação, hoje, é saber quais os caminhos a seguir, qual o rumo a ser trilhado?

Tudo o que diz respeito ao destino do Distrito Federal me interessa, de forma superlativa, supremamente, pois aqui nasci e cresci com a firme convicção de fazer parte de um projeto que só a genialidade de Juscelino Kubitscheck poderia conceber. É mais que uma opinião; é um sentimento que se transmite aos filhos, é o maior legado que alguém possa deixar, não importa em que parte desse quadrilátero do Planalto Central você esteja.

Diariamente, como resultado de uma situação de indiferença e moleza dos responsáveis pela administração pública, vemos crescer, em volume e complexidade, problemas que desde o planejamento da capital deviam estar solucionados – ou, ao menos, constar da prancheta de prioridades.

Entre um rodízio e outro – este talvez seja o exemplo mais eloquente – a população do Distrito Federal atravessou a temporada da estiagem de olho nas torneiras. Enquanto chove, permanece a pergunta se haverá água suficiente para encher os reservatórios.

Para além das controvérsias em torno de uma possível mudança climática castigando o Centro-Oeste, o certo é que no quesito gestão nos aproximamos perigosamente da tragédia, para dizer o mínimo, e ainda há muito o que explicar à população. Bom mesmo que se faça isso logo, pois o verão tem data para acabar e São Pedro, indiferente à incompetência dos homens, apenas está fazendo a sua parte.

Será preciso muita água para lavar a sujeira que anos de descaso administrativo soterrou, aí incluindo sonhos de gerações. Os problemas dão voltas. Da inquietante crise hídrica ao abandono do Teatro Nacional Claudio Santoro, símbolo cultural do DF e prestes a completar 1.500 dias fechado, fecha-se um desses círculos caóticos onde observamos com tristeza a omissão e a conivência do poder público com processos mal feitos e burocráticos.

Se por um lado não há nem calçadas por onde caminhar no DF, por outro o elementar direito de ir e vir está condicionado aos assaltos, latrocínios e outras formas terríveis de violências que já fazem parte do cotidiano de uma população cada vez mais assustada, refém da ação de bandidos.

Cito aqui apenas parte, pequeníssima parte, aquilo que se convencionou chamar de ponta do iceberg, de uma montanha imensa de problemas (educação, saúde, emprego etc). Nela, quanto mais cavamos, quanto mais nos aprofundamos, mais compreendemos que será preciso muito mais do que boa-vontade para sair dos escombros. Será necessário mobilizar a sociedade e trazer de volta o espírito dos pioneiros.

Passados 57 anos desde a sua fundação, a capital de todos os brasileiros nem mesmo ainda está preparada para receber os visitantes – sim, os brasileiros – que se aventuram a conhecê-la. Sem serviços receptivos profissionais, pasme-se, nem sequer possui um mapa que possa oferecer aos turistas.

Antes que a visão de Dom Bosco se desvaneça às margens do Paranóa, precisamos com urgência nos unir, como na canção, para que, sonhando juntos, possamos transformar essa realidade.

Pertenço a uma geração que não se entrega facilmente – aliás, não se entrega nunca –  e isto é o que me torna otimista em relação ao futuro do Distrito Federal. Estou certo de que sairemos engrandecidos das dificuldades atuais, por mais dolorosas que sejam as providências reclamadas. O novo ano será, acima de tudo, um ano de esperança, renovação, de prosperidade, de amor e de paz. Porque o sonho de Brasília simplesmente não pode morrer.

Ibaneis Rocha foi presidente da Seccional da Ordem dos Advogados do Distrito Federal e é atualmente secretário-geral adjunto do Conselho Federal da OAB.

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