Especialista analisa estudos recentes que testaram com sucesso novas abordagens terapêuticas contra dois tipos de leucemia.
Por Angelo Maiolino, hematologista*
Além de agressiva, essa leucemia é um dos cânceres mais difíceis de tratar, porque nem todos os pacientes podem se submeter à quimioterapia em função de idade mais avançada ou presença de comorbidades. E este era o caso dos pacientes incluídos no estudo batizado de Viale-A.
Publicada no New England, a pesquisa mostrou que o uso combinado de dois medicamentos, o venetoclax e a azacitidina, reduziu em 34% o risco de morte dos pacientes quando comparado à utilização conjunta de azacitidina e placebo (remédio sem princípio ativo, empregado para controle do estudo). A azacitidina é considerada o medicamento padrão-ouro no tratamento de pacientes com leucemia mieloide aguda inelegíveis para quimioterapia. E a aliança com o venetoclax se mostrou bem-sucedida.
Já o trabalho publicado no The Lancet Oncology trouxe os bons resultados de uma nova abordagem terapêutica para pacientes com leucemia linfocítica crônica. Esse câncer no sangue e na medula óssea tem progressão lenta e ocorre quando algumas células brancas do sangue, os linfócitos B, se tornam anormais e se multiplicam de forma desenfreada. A LLC é a forma mais comum de leucemia no Ocidente, sendo responsável por cerca de um terço de novos casos da doença.
O trabalho demonstrou que pacientes com a enfermidade que receberam por um período fixo uma combinação de medicamentos (venetoclax e obinutuzumabe) apresentaram taxas maiores de sobrevida livre de progressão de doença, avaliadas após 24 meses da suspensão do tratamento, em comparação a um grupo de pacientes que recebeu um tratamento-padrão com clorambucil e obinutuzumabe.
Os pesquisadores acompanharam por três anos 432 pessoas com leucemia. Durante o período, a taxa de sobrevida livre de progressão estimada da doença foi de 81,9% nos pacientes tratados com venetoclax e obinutuzumabe, ante 49,5% no grupo que recebeu a combinação de clorambucil e obinutuzumabe.
No Brasil, o medicamento venetoclax está aprovado para leucemia linfocítica crônica e leucemia mieloide aguda. A indicação mais recente foi para LLC, tendo sido aprovada em janeiro deste ano. Assim, temos boas notícias para compartilhar com os brasileiros que precisam tratar essas doenças.
* Angelo Maiolino é professor de hematologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador de Hematologia do Américas Oncologia, no Rio de Janeiro.
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