Nova cepa do Covid-19 adia abertura de restrições no Reino Unido

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A iminência de uma terceira onda é temida pelas autoridades inglesas, mesmo com vacinação adiantada

Reino Unido, que registrou uma série de lockdowns severos para conter a Covid-19 e tem no horizonte a possibilidade de derrubar todas as restrições após uma campanha intensa de imunização, pode ter o “Dia D”, marcado para 21 de junho, adiado após uma série de especialistas alertarem para a possibilidade de mais uma onda da doença.

A bandeira vermelha foi levantada com o aumento de casos da variante Delta, registrada pela primeira vez na Índia e causadora de mais de 90% dos novos contágios no país europeu.

No momento, mais de ¾ dos adultos britânicos estão imunizados e a média semanal de mortes por Covid-19, que chegou a 1,2 mil em janeiro, é de sete pessoas.

Com o número de hospitalizações crescendo, o possível adiamento do tão sonhado momento da reabertura pode significar uma precaução extrema ou os sinais reais de uma terceira onda na potência europeia.

“Acho que o médico está fazendo a função dele, de dar o parecer médico. Ele tem que olhar também a eficácia da vacina na hora de fazer a recomendação. Do ponto de vista médico, eu entendo que alguns profissionais façam a recomendação, embora eu teria um pouco mais de cuidado para fazê-la, mas isso não pode ser a única opinião a ser ouvida para poder tomar uma decisão dessa. Há um conjunto de coisas envolvidas a serem analisadas”, pontua.

Signorelli lembra que o papel da vacina pode ter relação com a manutenção de um número tão baixo de mortos e aponta por experiência própria que, no Brasil, onde os profissionais da linha de frente foram os primeiros a serem imunizados, houve impacto direto nas ocorrências. “Cuido da escala de hospitais médicos e praticamente zerou o número de profissionais doentes. Antes tínhamos muitos, agora não tem mais médico doente [de Covid-19]. Isso é sinal de que as vacinas fazem efeito”, ressalta.

O clínico geral Roberto Debski, que também trabalha na linha de frente da doença no Brasil, lembra que a Covid-19 é uma doença que já enganou a população mundial várias vezes e ressalta o papel dos profissionais da saúde, que devem estar munidos de dados sobre a população local para fazerem projeções sobre como a doença pode se comportar, principalmente diante de uma nova variante.

“Não é à toa, eles têm essa preocupação, que pode vir a se tornar realidade ou não. Mas com certeza quanto maior o número de pessoas que o país tiver imunizado, melhor”, afirma. Ele lembra que as variantes, pouco conhecidas pela ciência, podem interferir nas projeções de imunização, o que torna a cautela válida.

“Quando se constata que tem [uma terceira onda], ela já está acontecendo, então acho o adiamento algo prudente. Eu entendo o lado do comércio, que está preocupado, que está com déficits, porém a gente já está há tanto tempo nisso que eu acho que o mais importante de tudo é a vida e a saúde”, opina.

No fim de maio, um estudo liderado pela Public Health England mostrou que as vacinas da Pfizer e de Oxford são eficazes contra a variante Delta, mas apontou que as duas têm taxa de 33% após a primeira dose, número inferior à efetividade de 50% registrada contra outras variantes. Esse pode ser um dos motivos para o aumento de casos diários no Reino Unido, que chegaram a 1,4 mil em abril e hoje ultrapassam os sete mil.

País deve decidir sobre adiamento na próxima semana

O pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Faculdade Getúlio Vargas (FGV), Leonardo Paz, explica que a série de medidas restritivas adotadas pelo Reino Unido desde o momento em que o primeiro-ministro Boris Johnson foi contaminado pela doença causaram um impacto forte à economia local, fazendo com que mais de £ 350 bilhões fossem investidos em programas de apoio à população e que as empresas deixassem o país com a maior dívida desde o período da primeira e segunda guerras mundiais.

“Entretanto, o país tem um plano hoje que vai um pouco na linha do que o presidente Bolsonaro critica. O presidente tem reclamado muito do ‘vamos salvar a vida e a economia a gente vê depois’, isso não funciona. Essa foi exatamente a estratégia no final das contas do Reino Unido. Reino Unido apostou pesadamente para salvar vidas, se você olhar hoje a média diária de mortes do Reino Unido é muito pouca. O país investiu pesadamente para isso, agora ele já tem um plano para 2023 e 2024 de aumento de impostos e de corte de custos públicos para poder tentar equilibrar um pouco essa balança”, analisa.

Paz diz que a adaptação da população às medidas restritivas foi melhorando a cada um dos lockdowns, mesmo que o impacto na economia continue sendo grande, o que pode causar um adiamento na reabertura.

“É mais fácil você estender um lockdown do que abrir [o comércio] e fechar de novo. Acho que eles vão esperar até a semana que vem para tomar essa decisão, se estendem mais 15 dias, mais um mês, de acordo com o grau de violência dessa possível terceira onda”, aponta.

Segundo ele, isso certamente deve afetar na projeção do PIB britânico para 2021, que hoje é de mais de 6%. Na última quinta-feira, 10, Boris Johnson reconheceu que as hospitalizações pela Covid-19 estão subindo e afirmou que na próxima segunda-feira, 14, o país deve analisar os dados das últimas quatro semanas e deliberar sobre os próximos passos a serem dados.

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