Por Miguel Lucena
Tolete anda dizendo por aí que tem medo de apodrecer na cadeia. Medo? Pois é justamente o destino natural de um tolete: ser esquecido num canto escuro até feder.
Quando nasceu para o crime, jurava que era “virgem na Justiça”. Ora, todo mundo sabe que tolete mesmo só nasce virgem uma vez — e, depois de lançado ao mundo, não volta pra dentro.
Na cadeia, Tolete vai descobrir que não há descarga que dê jeito. Vai ter que conviver com o cheiro do próprio passado, porque tolete não se desmancha fácil, não. Fica ali, firme, lembrando todo dia que a vida é cíclica: hoje você entope, amanhã alguém dá a descarga.
O medo de apodrecer é compreensível, mas, convenhamos, é o caminho inevitável. Afinal, quando a história de um sujeito já fede antes mesmo da cela, o resto é só detalhe de banheiro.
Se era para escolher apelido, que tivesse pensado em algo mais cheiroso. Mas não: quis ser Tolete. E tolete, todo mundo sabe, nasceu para apodrecer.