Famílias recorrem ao planejamento para preservar a tradição natalina
Por Simone Salles
Os preços dos itens tradicionais da ceia de Natal e de Ano Novo seguem variando e exigem cada vez mais planejamento do consumidor. Levantamento do Procon-SP identificou diferenças expressivas entre valores praticados por grandes redes de supermercados. As variações indicam que pesquisar antes de comprar pode significar uma economia relevante no fim do ano.
Entre os produtos analisados, a maior variação encontrada chegou a 76,5%. A lentilha cozida em caixa de 250 gramas apresentou preços que iam de R$ 5,49 a R$ 9,69, dependendo do estabelecimento. Outro destaque foram os panetones e chocotones, símbolos das festas natalinas. Um chocotone em lata de 750 gramas chegou a registrar diferença de 54%, sendo vendido por R$ 39,99 em uma loja e R$ 61,59 em outra.
A pesquisa foi realizada de forma remota pela Escola de Proteção e Defesa do Consumidor, entre o fim de novembro e início de dezembro, nos sites de sete grandes supermercados. Ao todo, foram comparados 67 itens de diferentes marcas, incluindo azeites, carnes, conservas, frutas em calda, farofas prontas, chocolates e bebidas, com o objetivo de oferecer um parâmetro de preços ao consumidor.
Na comparação com o ano anterior, os produtos comuns às duas pesquisas apresentaram alta média de 11,08%, acima da inflação registrada no período pelo IPC-SP da Fipe, que foi de 7,35%. O dado confirma a percepção de que a ceia pesa mais no bolso do que outros itens do consumo cotidiano.
Mesmo diante do encarecimento, os brasileiros não abriram mão da tradição. Pesquisa da CDLRio e do SindilojasRio aponta que a maioria dos consumidores pretende ajustar, mas não cancelar, a ceia. Para 72% dos entrevistados, a mesa será mais modesta; 20% afirmam que ficará igual à do ano passado, e 6% ainda acreditam que pode ser mais farta. O aumento dos alimentos, o desemprego e a queda da renda familiar aparecem como os principais motivos para a contenção de gastos.
O orçamento também reflete esse cenário. Cerca de 71% dos entrevistados planejam gastar até R$ 250 com a ceia, enquanto 25% estimam valores entre R$ 300 e R$ 400. Apenas 4% projetam despesas acima de R$ 450. O cartão de crédito parcelado surge como principal forma de pagamento, citado por 70%, seguido do cartão-alimentação e do pagamento à vista.
Faltando menos de uma semana para o Natal, levantamento da Câmara Nacional dos Dirigentes Lojistas em todas as capitais mostra que 98% dos entrevistados pretendem celebrar desembolsando cerca de 340 reais com os preparativos da ceia natalina. A maior parte dos convidados deve ajudar com os gastos da comemoração: 31% dos entrevistados responderam que cada convidado deverá levar um prato, 28% pretendem dividir o valor das despesas com os participantes e apenas 13% pretendem arcar com todos os gastos da festa.
Na composição da ceia, as aves continuam liderando as escolhas: peru, chester e frango foram citados por metade dos entrevistados. Lombo e pernil aparecem em seguida, enquanto bacalhau, frutas e bebidas alcoólicas ocupam fatias menores da mesa natalina.
Isso se explica porque dos 13 produtos mais consumidos no período, nove registraram aumento de preço, com destaque para o bacalhau, que teve a maior alta, próxima de 85%. Carnes como lombo suíno e aves típicas, a exemplo do chester, também encareceram, assim como passas e panetone, enquanto o peru apresentou reajuste mais moderado. Na contramão, itens como azeite, tender e lentilha tiveram redução de preços no comparativo anual.
Especialistas e órgãos de defesa do consumidor reforçam que o planejamento é a principal ferramenta para economizar. Definir o cardápio com antecedência, fazer listas de compras, comparar preços entre lojas e analisar peso, qualidade e validade dos produtos ajudam a evitar gastos desnecessários. No caso das compras online, a orientação é verificar custos de frete, prazos de entrega e a confiabilidade dos sites.
Além das diferenças expressivas entre estabelecimentos, o levantamento também evidencia como a escolha do local e do momento da compra influencia diretamente o custo final da ceia. Produtos com alta demanda sazonal tendem a sofrer reajustes mais intensos à medida que as festas se aproximam, o que reforça a importância de antecipar as compras sempre que possível. Em muitos casos, itens não perecíveis adquiridos semanas antes do Natal apresentam preços mais estáveis e ampliam a margem de economia do consumidor.
Outro ponto destacado é a necessidade de atenção às embalagens promocionais e versões “especiais” de fim de ano, que nem sempre representam melhor custo-benefício. Comparar o preço por quilo ou litro, observar a quantidade real do produto e avaliar marcas alternativas são estratégias que ajudam a conter gastos sem comprometer a qualidade da ceia.
Com a inflação ainda pressionando os alimentos, a ceia de Natal segue como um exercício de equilíbrio entre tradição e orçamento. Para muitas famílias, o desafio não é desistir da celebração, mas adaptá-la à realidade financeira, sem abrir mão do simbolismo da data.
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