Projetos estruturantes de grande porte, que passaram a última década engavetados no Distrito Federal, também eram alvo do “interesse estratégico” da Odebrecht na capital, afirmam ex-executivos da empresa que fecharam acordo de delação premiada. Nos depoimentos, empreendimentos como a captação de água no Lago Paranoá e a expansão do Metrô são citados como alternativas de investimento para a empreiteira.
Segundo o ex-diretor Ricardo Ferraz, a perspectiva de participação nessas grandes obras foi apresentada em 2010 à chapa de Agnelo Queiroz (PT) e Tadeu Filippelli (PMDB), em uma reunião de construtoras com os então candidatos ao Palácio do Buriti. Vitoriosos, Agnelo e Filippelli foram governador e vice do DF, respectivamente, entre 2011 e 2014.
Segundo Ferraz, esses interesses ficaram claros à chapa Agnelo-Filippelli em uma reunião convocada pelo ex-executivo João Pacífico, também da Odebrecht, em meados de 2010. O encontro foi na casa do então cabo eleitoral Abdon Henrique de Araújo – presidente da Terracap e administrador do Lago Sul na gestão Agnelo –, de acordo com o delator.
“O [João] Pacífico tinha marcado esse encontro para tratar, justamente, da campanha. Na ocasião, foi definido pelo próprio governador que o Abdon seria o interlocutor dele para receber os valores correspondentes ao apoio de campanha”, diz Ferraz.
Representantes de outras sete empreiteiras nacionais estiveram nas reuniões na casa de Abdon, durante a campanha de Agnelo, para demonstrar interesse em obras no DF e negociar apoio eleitoral, de acordo com o delator. O repasse de R$ 1 milhão em verbas não contabilizadas, diz ele, foi feito em parcelas, entre agosto e setembro de 2010.
Outro delator
As mesmas reuniões foram citadas por João Pacífico em depoimentos ao MPF, no âmbito do acordo de delação premiada. Segundo ele, os repasses foram feitos via “Setor de Operações Estruturadas”. De acordo com o Ministério Público Federal, esse era o “departamento de propina” da Odebrecht.
As contribuições oficiais, segundo ele, foram feitas diretamente para o Partido dos Trabalhadores (PT), e não para a campanha específica de Agnelo. Questionado por um dos procuradores, Pacífico reconhece que os valores pagos e não declarados, no DF, eram superiores aos repasses de outras regiões do país.
“Também, nós temos outros projetos lá no Distrito Federal. Nós temos o projeto de uma PPP de construção de residências habitacionais, de 8 mil unidades”, afirmou, em referência ao condomínio Jardins Mangueiral.

Em nota, a Odebrecht disse entender que “é de responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos específicos feitos pelos seus executivos e ex-executivos”.
“A empresa colaborou com a Justiça, reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça e com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas”, diz o texto.
‘Lista de Fachin’

Ao todo, o ministro Edson Fachin remeteu 201 pedidos de investigação a instâncias inferiores da Justiça Federal em todo o país, relacionados a pessoas sem foro privilegiado.
O ministro também autorizou a Procuradoria Geral da República (PGR) a investigar 8 ministros, 3 governadores, 24 senadores e 39 deputados. Os pedidos se baseiam na chamada lista de Janot, feita com base em delações de ex-executivos da Odebrecht.
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