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O Brasil ainda não percebeu que os EUA mudaram de estratégia

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Por Carlos Arouck

A administração Donald Trump divulgou, no início de dezembro, a Estratégia de Segurança Nacional (ENS) 2025, documento que consolida a maior reorientação da política externa americana desde os atentados de 11 de setembro de 2001. O texto abandona o internacionalismo liberal das últimas décadas e estabelece uma abordagem centrada em interesses nacionais objetivos como proteção do território, segurança econômica e preservação da coesão interna.

Pela primeira vez, o Hemisfério Ocidental surge como eixo central da estratégia. A ENS introduz o chamado “Corolário Trump” à Doutrina Monroe, sustentado por três pilares: rejeição a qualquer presença estratégica externa nas Américas, especialmente chinesa; preservação do direito de intervenção para a defesa de interesses americanos; e relocalização de cadeias críticas de suprimentos, como energia, minerais estratégicos e indústria, para dentro da região. Na prática, a América Latina passa a ser tratada como área prioritária de influência direta de Washington.

Nesse redesenho, o Brasil ocupa posição central. O país concentra cerca de 23% das reservas conhecidas de terras raras, possui escala industrial relevante, matriz energética estratégica e localização geopolítica sensível no Atlântico Sul. Esses fatores elevam o grau de atenção americana sobre investimentos chineses em portos, telecomunicações, energia e mineração, além de ampliar o uso de tarifas, acordos comerciais e exigências regulatórias como instrumentos de alinhamento às cadeias ocidentais.

A Europa perde centralidade na ENS. O documento critica estruturas supranacionais que, segundo Washington, corroem a soberania política e afastam as decisões da vontade popular. Os aliados europeus são pressionados a assumir maior responsabilidade por sua própria defesa, enquanto os Estados Unidos sinalizam apoio explícito a forças políticas soberanistas consolidadas em cada país.

Na Ásia, a disputa com a China é tratada sob uma lógica econômica e tecnológica. A prioridade recai sobre a correção de desequilíbrios comerciais, a proteção da liderança americana em inteligência artificial, computação quântica e biotecnologia, além do fortalecimento defensivo de aliados regionais. O objetivo declarado é assegurar vantagem econômica de longo prazo, sem enquadramento ideológico.

Essa mudança de eixo estratégico ajuda a explicar decisões recentes envolvendo o Brasil, como a revogação das sanções impostas ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, aplicadas em julho de 2025 com base na Lei Global Magnitsky, e a redução gradual de tarifas sobre produtos brasileiros. As medidas não indicam alinhamento político com o governo Lula, mas refletem uma avaliação pragmática: preservar a estabilidade regional e a capacidade de coordenação no Hemisfério Ocidental frente a atores externos.

Para Washington, contudo, a fragmentação política interna brasileira representa um risco estratégico. No horizonte de curto prazo americano, uma base conservadora dividida e progressivamente integrada ao sistema liberal global explicitamente criticado pela ENS como um vetor a ser combatido enfraquece a lógica da Doutrina Monroe renovada. Quanto maior a proximidade com centros financeiros globais e agendas supranacionais, menor a probabilidade de apoio político consistente dos Estados Unidos.

Nesse contexto, analistas apontam que o maior feito político recente da direita brasileira foi a eleição de Jair Bolsonaro, um marco histórico cujo alcance foi limitado pela incapacidade de parte do campo conservador de construir unidade estratégica. A tentativa de trocar o sistema para, na prática, preservá-lo sob nova forma não encontra respaldo na lógica pragmática da nova política externa americana.

A evidência mais clara dessa orientação está no suporte explícito dos Estados Unidos ao soberanismo europeu, desde que consolidado e unificado em cada nação. Washington demonstra preferência por interlocutores politicamente estruturados, com identidade clara e capacidade de sustentar decisões estratégicas, em detrimento de coalizões fragmentadas ou excessivamente dependentes de agendas globais.

Para a direita brasileira, o principal fator externo relevante permanece a consolidação eleitoral do soberanismo europeu, de onde pode surgir apoio político real para uma mudança estrutural no Brasil. Esse cenário reforça um nome específico: Eduardo Bolsonaro. Deputado federal com interlocução direta e contínua junto a lideranças soberanistas europeias incluindo partidos como Vox, Chega e representantes do Leste Europeu , ele aparece como o único ator com contatos efetivos, densidade política e credibilidade internacional para ser ouvido e apoiado nesse novo arranjo geopolítico.

A ENS 2025 encerra definitivamente a era de imposição ativa de valores democráticos liberais como eixo da política externa. Os EUA priorizam relações estáveis, comerciais e estratégicas, respeitando soberanias e focando em ganhos mútuos.

Para o Brasil, o desafio é claro: adaptar-se a um mundo guiado por interesses econômicos reais, segurança regional e defesa da soberania nacional. Essa reorientação representa uma oportunidade para nações que priorizem estabilidade e prosperidade concreta, em detrimento de agendas ideológicas impostas de fora.

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