O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, quer ouvir os depoimentos do senador Aécio Neves (PSDB-MG), do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT), do ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) e do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira em processo que investiga suspeitas de corrupção na estatal Furnas Centrais Elétricas. O pedido foi feito ao ministro Gilmar Mendes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF)
Caso Gilmar autorize a convocação, revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo, será a primeira vez que Aécio vai depor sobre o caso da estatal federal de energia. Na petição, Janot afirmou que os fatos delatados por colaboradores, uma suposta “partilha de propina entre políticos”, justificam a necessidade de aprofundar as investigações, principalmente a atuação do ex-diretor de Engenharia da estatal Dimas Toledo e a sua relação com o senador do PSDB.
O procurador-geral requereu também a prorrogação do inquérito por mais 60 dias – a investigação foi instaurada em maio do ano passado e já fora prorrogada por 60 dias em novembro. Ele pretende esclarecer a versão apresentada pelo delator e lobista Fernando Moura, que disse ter sido informado por Dirceu, em 2003, que Aécio havia pedido ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, logo após sua posse, a permanência de Dimas Toledo na diretoria de Furnas.
CPI dos Correis
As primeiras denúncias sobre corrupção em Furnas surgiram na CPI dos Correios, em 2005, por meio do ex-deputado e delator do Mensalão Roberto Jefferson (PTB-RJ). Fernando Moura teria participado das discussões com Dirceu e Silvio Pereira sobre o loteamento de cargos, incluindo as diretorias de estatais, como a Petrobras.
Segundo o lobista, Dimas foi comunicado da permanência no cargo em 2003. Ele, então, teria definido a partilha da propina: um terço para o PT nacional, um terço para o PT de São Paulo e um terço para Aécio. O ex-diretor e Aécio rechaçam a versão. Em acareação, Moura manteve seu depoimento e foi acusado de “mentiroso” por Toledo.
Em dezembro do ano passado, Aécio depôs à Polícia Federal em outro inquérito, no qual é investigado por supostamente atuar para “maquiar” dados da CPI que poderiam implicar políticos do partido. De todos os envolvidos no episódio, Dirceu, Pereira e Moura já foram denunciados na Operação Lava Jato.
O inquérito contra Aécio foi aberto com base na delação de Delcídio. O senador cassado afirmou que “sem dúvida” o tucano teria recebido propina, confirmando a colaboração do doleiro Alberto Youssef, que havia delatado um pagamento de cerca de quatro milhões de reais para o tucano. Segundo o doleiro, Aécio dividiria a influência da diretoria de Furnas com o PP. O depoimento ocorreu em 2015, mas, na época, Janot considerou a versão baseada em rumores e arquivou a investigação.
Nesse último requerimento, o procurador-geral escreveu que o inquérito apura influência do PSDB “na direção da empresa Furnas, juntamente com o Partido Progressista, no âmbito da qual recai a suspeita de pagamento de vantagens indevidas por empresas contratadas, a revelar possível participação de Aécio Neves em esquema de corrupção”.
Contradições
Moura, que cita o nome de Aécio, já chegou a ter seus benefícios oriundos da delação cortados após mudar de versão sobre sua saída do país em 2005, no auge do Mensalão. Na colaboração, para atenuar a punição, ele afirmou que “resolveu se mudar para Paris após receber a ‘dica’ de José Dirceu para ‘cair fora’”.
Em audiência com o juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, no processo em que também é réu, ele apresentou uma versão diferente: “Depois que eu assinei que eu fui ler. Eu disse que foi o Zé Dirceu que me orientou a isso. Não foi esse o caso. Eu saí porque saiu uma reportagem minha na VEJA, em março de 2005”.
Moura admitiu depois aos procuradores que mentiu na segunda versão e segue colaborando com as investigações. Os outros depoimentos de sua colaboração não tiveram alterações e são usados pelos investigadores.
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