Processo de beatificação envolveu reconhecimento de milagre no Brasil
Por Simone Salles
O Vaticano viveu neste domingo (7) um dos momentos mais simbólicos da Igreja Católica neste século: a canonização de Carlo Acutis, adolescente italiano conhecido como “padroeiro da internet”. A cerimônia foi presidida pelo Papa Leão XIV, diante de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro.
Nascido em 1991, em Londres, e falecido em 2006, em Monza, aos 15 anos, vítima de uma leucemia agressiva, Carlo Acutis já era considerado por muitos jovens um modelo de santidade contemporânea. Apaixonado por computadores, aprendeu programação por conta própria e usou seu talento para evangelizar, criando um site que reunia milagres eucarísticos e aparições marianas reconhecidas pela Igreja. Sua vida simples e, ao mesmo tempo, profundamente ligada à fé católica fez com que fosse chamado de “primeiro santo millennial” (nascidos entre 1981 e 1996).
Sua mãe, Antonia Salzano, que acompanhou emocionada a cerimônia, afirmou à imprensa internacional que Carlo “era um adolescente como tantos outros, que brincava, jogava videogame e ia à escola, mas que fez a escolha de colocar Jesus em primeiro lugar na vida”. A identificação com sua geração, segundo ela, é o que explica a rápida propagação da devoção ao jovem.
A canonização só foi possível após o reconhecimento de dois milagres atribuídos à sua intercessão. O primeiro, ocorrido no Brasil, em 2010, foi a cura inexplicável de uma criança em Campo Grande (MS), no dia de Nossa Senhora Aparecida. O segundo, reconhecido em 2024, foi a recuperação de uma jovem na Costa Rica após um grave acidente.
Beatificado em Assis em 2020, Carlo já atraía multidões ao local onde está sepultado, no Santuário do Despojamento, na mesma cidade de São Francisco. O corpo do adolescente repousa em um túmulo coberto por uma máscara de cera que o retrata com roupas casuais — jeans, tênis e moletom , reforçando sua imagem de jovem comum que viveu a fé de forma extraordinária.
Com sua canonização, Acutis passa a ser oficialmente chamado de “santo” e inscrito no cânone da Igreja. Para os católicos, isso significa o reconhecimento de que sua vida foi um testemunho de virtude e que ele já está na presença de Deus, podendo interceder pelos fiéis.
A história do novo santo se entrelaça com a da geração marcada pela tecnologia. Carlo jogava videogames, navegava na internet e usava redes digitais em uma época em que isso ainda era novidade. Mas, diferente da maioria de seus colegas, decidiu transformar o mundo digital em espaço de evangelização. Sua famosa frase “a Eucaristia é a minha auto estrada para o céu” sintetiza o centro de sua espiritualidade.
Acutis nutria profunda devoção à Santíssima Virgem Maria e rezava frequentemente o rosário em sua homenagem. Entre as invocações marianas, tinha especial afeição por Nossa Senhora de Lourdes e Nossa Senhora de Fátima. Inspirava-se, ainda, em São Francisco de Assis e São Miguel Arcanjo. Ele deixou como marca principal o exemplo de fé vivido no dia a dia e a criação de um projeto: a exposição internacional dos milagres eucarísticos, com 142 painéis e também uma versão online, que já percorreu o mundo.
Mais do que um exemplo de devoção juvenil, Carlo Acutis representa para a Igreja Católica um sinal de que a santidade pode estar presente no cotidiano da era digital. Atualmente, é conhecido também como “influencer de Deus”. Jovens conectados ao redor do mundo já o consideram um modelo próximo, que mostra ser possível unir fé e tecnologia. Seu pioneirismo em comunicar a fé online fez dele um exemplo de santo comunicador, mesmo sem ter usado redes sociais. Hoje, a Igreja oficializou o que milhões de devotos já acreditavam: Carlo, o garoto que usava computador para falar de Deus, é santo.