Pressionado pelo Centrão, Lula demite Nísia Trindade e abre caminho para Padilha
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cedeu às pressões políticas e anunciou, nesta terça-feira (25), a demissão da ministra da Saúde, Nísia Trindade. A saída já era considerada inevitável nos bastidores do governo, após semanas de fritura promovida pelo Centrão e por aliados insatisfeitos com sua gestão.
O comunicado ocorreu após uma reunião entre Lula e a agora ex-ministra no Palácio do Planalto. Ironicamente, o encontro aconteceu logo após ambos participarem de um evento para anunciar uma parceria na produção de vacinas contra a dengue — uma das poucas iniciativas que poderiam ser creditadas à gestão de Nísia. Ainda assim, nem isso foi suficiente para mantê-la no cargo.
Lula resistiu à troca, mas foi obrigado a abrir mão de sua “cota pessoal” diante da pressão interna e da necessidade de acomodar interesses na reforma ministerial. No Planalto, a avaliação é que Nísia não conseguiu imprimir uma marca forte ao governo Lula III. O programa Mais Acesso a Especialistas, uma das principais promessas da campanha, não deslanchou e caiu no ostracismo. Sem capital político e sem apoio dentro do governo, a ministra tornou-se alvo fácil para o Centrão, que já cobiçava o controle da pasta.
A saída de Nísia abre caminho para a nomeação de Alexandre Padilha, atual ministro da Secretaria de Relações Institucionais e um dos petistas mais próximos de Lula. Padilha já comandou a Saúde durante o governo Dilma Rousseff e foi o responsável pelo programa Mais Médicos, uma das marcas da ex-presidente. A escolha de seu nome reforça o movimento do Planalto para blindar o ministério e evitar novas interferências do Centrão, que segue ampliando sua influência na Esplanada.
Apesar da demissão, Lula não deve deixar Nísia desamparada. Interlocutores afirmam que ela pode assumir uma autarquia ou integrar o conselho de assessores diretos do presidente. A questão é se essa acomodação será suficiente para apaziguar aliados descontentes ou se a dança das cadeiras no governo ainda está longe de acabar.