Ninguém aprende com medo

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Por Maria José Rocha

Ninguém aprende com medo. A violência compromete a aprendizagem e o sucesso escolar dos nossos alunos.
Hoje, assisti a uma entrevista com o futuro secretário de Educação do DF, Rafael Parente, preparado, assertivo e bem intencionado, que me impressionou positivamente e por isso eu gostaria de falar de flores, mas vejo que mais importante do que ser agradável é aproveitar este momento para fazer dele um momento de reivindicação.
O secretário não conhecia ainda a situação de violência nas escolas do DF.  Por isso, resolvi escrever esse artigo alertando para a necessidade de uma política pública na escola que enfrente a violência,  proteja e guarde os nossos filhos,  preserve a sua inocência e que ensine de verdade a todos.
Não podemos abrir mão da visão – embora idealizada – da escola como lugar de inocência, proteção e democracia. Os índices crescentes de violência e de criminalidade afetam fortemente o cotidiano escolar, abalam a confiança dos pais em relação à escola, ao mandar um filho para a escola e não saber se voltará; se será iniciado em drogas, álcool, em práticas sexuais, perdendo a sua inocência.
Ninguém aprende com medo. A violência escolar no Distrito Federal é uma realidade inegável. Claro que a violência escolar é hoje um fenômeno mundial, mas isto não nos autoriza a conviver com este fenômeno avassalador, no coração do poder no Brasil. Em 2008, lemos um relatório de Análise Criminal, da Polícia Civil, realizado a partir de dados colhidos em 406 unidades escolares das 642 existentes  no DF. O relatório reuniu dados das regiões administrativas e dos lagos, com exceção do plano piloto, mostrando dados preocupantes e estarrecedores. Em 30% das unidades de ensino, das 406 consultadas, foram registrados casos de alunos que deixaram de ir à escola com medo da violência; em 38% das unidades a iluminação pública era insuficiente; 41% das escolas têm bares, nas proximidades; 33% têm comércio e 26% têm ambulantes nas proximidades da escola. Em 39% das escolas foram registrados eventos como roubo, ameaça à vida, agressão física contra professores e funcionários dentro ou nas proximidades da escola. Em 31% das escolas foram registrados eventos envolvendo alunos como vítimas de ameaça pela internet. O consumo de drogas nas dependências da escola ocorria em 4% delas sempre e em 24% ocasionalmente. Já o consumo de drogas nas proximidades da escola era de 37% sempre e 36% ocasionalmente. E uma pesquisa feita pelo Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro) revelando que 58% dos educadores do DF dizem ter sido vítima de algum tipo de agressão na escola ou dentro da sala de aula. Os principais agressores são os estudantes (43%). O relatório mostra ainda que o tipo mais comum de violência é a verbal, citada em 43% das entrevistas. Em seguida, estão as ameaças (29%) e o bullying (11%).
O documento mostra que, do total de professores entrevistados, 74% já presenciaram algum tipo de violência dos alunos contra outro educador. A maioria dos casos ocorreu em escolas das regiões de Ceilândia (15,8%), Plano Piloto e Cruzeiro (16%) e Taguatinga (8,5%). Ao todo, foram ouvidos 1.355 professores entre dezembro de 2017 e março deste ano. As professoras associam as causas principalmente ao uso de entorpecentes e à presença do tráfico em locais nas proximidades das escolas. Também o “estresse com o ambiente escolar” é citado. Portanto, senhor secretário, uma política pública de enfrentamento da violência escolar é das mais  urgentes e necessárias, pois ninguém aprende com medo.

*Maria José Rocha é mestre e doutoranda em Educação. Ex-deputada baiana, é presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira no Distrito Federal.

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