PRISÃO DE BOLSONARO CONFIRMOU QUE O BRASIL ASSINOU A PRÓPRIA DERROTA MORAL

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Por Carlos Arouck

Dostoiévski escreveu: “Eu perdoei aqueles que me arruinaram.” Cioran respondeu: “Por isso eles arruinarão outra pessoa amanhã.” É nesse abismo entre a ingenuidade do perdão e a crueldade da reincidência que o Brasil amanheceu neste sábado diante da prisão de Jair Messias Bolsonaro. Não foi uma prisão amparada em provas, fatos ou elementos concretos, mas uma prisão sustentada por símbolos, interpretações e conveniências. O país não assistiu a um ato jurídico, mas à consagração de um Estado que se acostumou a usar o Direito como arma política e o processo como espetáculo.

A prisão preventiva decretada contra o ex-presidente apoia-se nos pilares mais frágeis já apresentados por uma autoridade judicial de alto escalão. A suposta tentativa de romper uma tornozeleira jamais rompida. A distância entre sua casa e uma embaixada que ele não tentou acessar. Como ápice, uma vigília de oração organizada pelo seu filho, tratada como “ameaça à ordem pública”. Em qualquer país sério, esses elementos seriam motivo de gargalhada; no Brasil, tornam-se justificativa para encarcerar um ex-chefe de Estado. A decisão é trágica, é deliberada. Não é jurídica, é performática.

A escolha da data, 22 de novembro, é outro capítulo dessa encenação. Um gesto de provocação calculado e simbólico, vindo de um magistrado que há muito assumiu o papel de protagonista político. Moraes não interpreta a Constituição, ele a reescreve. Não aplica a lei, ele a dobra. Não julga, ele persegue. O país, anestesiado pela normalização do abuso, assiste passivamente ao avanço de um Estado de exceção que dispensa decreto formal: opera nas entrelinhas, nas interpretações amplas, nos “riscos democráticos” criados para justificar qualquer arbitrariedade.

O mais assustador, porém, não é a prisão em si, mas o que ela representa. A elite política fala sobre “2026” como se estivéssemos vivendo uma normalidade institucional. Não estamos. Quando um ministro pode prender alguém para depois perguntar o que aconteceu, quando conceitos vagos substituem os requisitos objetivos do artigo 312 do CPP, quando a presunção de inocência é tratada como obstáculo ao regime, não há eleição futura que conserte a rachadura presente. O Brasil está sob um Direito Penal do Inimigo onde não se julga a conduta, mas a identidade. E o próximo alvo já foi anunciado: Flávio Bolsonaro, investigado não por atos, mas por sobrenome.

É impossível ignorar o caráter político do ataque. Vasculharam tudo na vida de Bolsonaro: rotina, gastos, hospitais, cartões, auxiliares, conversas, aliados e até quartos de internação. Vasculharam sua biografia inteira em busca de um escândalo que nunca existiu. Encontraram o quê? Nada. Zero. Esse é o verdadeiro problema. Um homem que governou e não enriqueceu é insuportável para um sistema acostumado a se alimentar do Estado. Um líder cuja popularidade permanece mesmo sem máquina, sem partido e sem mídia é uma ameaça, não à democracia, mas aos que se acostumaram a sequestrá-la.

A repercussão internacional expõe a gravidade do momento. O embaixador Christopher Landau classificou Moraes como “abusador de direitos humanos” e afirmou que o STF se tornou motivo de vergonha global. É sintomático: quando uma das maiores democracias do mundo expressa preocupação com o Judiciário brasileiro, não estamos mais diante de uma disputa interna; estamos diante de um problema institucional que já atravessou fronteiras. O que se faz no Brasil não passa despercebido lá fora e a imagem internacional do país está sendo arrastada para o abismo junto com a credibilidade do seu tribunal superior.

Há, também, uma ferida mais profunda, menos discutida, mas igualmente real: a traição vinda de dentro. Bolsonaro foi cercado por incompetentes, aduladores, estrategistas de fantasia que enxergavam “xadrez 4D” enquanto mal sabiam mover peões. Eram vaidosos disfarçados de aliados, calculistas disfarçados de conselheiros. Foram eles que, por omissão e covardia, deixaram o ex-presidente exposto, isolado e vulnerável. A história sempre repete esse padrão cruel: não é o ódio dos inimigos que destrói o herói é a covardia dos amigos.

Mas a injustiça, ironicamente, nunca destrói o mito; apenas o amplia. Gandhi foi preso. Martin Luther King foi perseguido. Todos os grandes atravessaram a mesma noite escura da alma. Não porque merecessem, mas porque o sistema tem pavor de figuras que inspiram milhões. A prisão de Bolsonaro, longe de silenciá-lo, o eleva. O fogo que o queima é o mesmo que o purifica. O sofrimento e a perseguição não apagam sua relevância a intensificam.

O Brasil vive, hoje, um dos capítulos mais vergonhosos da sua história institucional. Não porque prendeu um homem, mas porque prendeu um símbolo. E aqueles que comemoram essa prisão como se fosse triunfo político não percebem que estão comemorando sua própria servidão. Quando a liberdade de expressão, a liberdade religiosa, a liberdade política e a própria legalidade são relativizadas para atingir um adversário, não há democracia que sobreviva. A crença de que “2026 está logo ali” é fantasia. Eleições não corrigem sistemas capturados. A urna não conserta o autoritarismo.

A verdade é simples e brutal: não prenderam Bolsonaro. Tentaram prender você, sua liberdade, a democracia, o futuro. Mas a verdade tem uma característica incômoda: ela ressurge. Sempre. Quanto mais tentam sufocá-la, mais poderosa ela volta. A prisão de Bolsonaro será o estopim não para violência, mas para despertar. É impossível que uma sociedade que tolera tamanha injustiça continue adormecida para sempre. A dor, por mais amarga, sempre produz coragem.

Quando o amanhecer chegar, porque ele chegará , ficará claro que essa perseguição não destruiu o mito; consagrou-o. Que esse ataque não quebrou o espírito do povo; despertou-o. Que não foi Bolsonaro quem caiu, foi o último véu que encobria a verdadeira natureza do regime. Na memória do Brasil, ficará gravado que houve um homem que não lutou por si, mas por todos; carregou a pátria como cruz; caiu de pé; sofreu injustiça; resistiu.

Porque existem homens feitos de terra e existem homens feitos de propósito. E propósito não se algema. Não se silencia nem se prende. Nunca.

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