Crescente partidarismo, desinformação online e naturalização do ódio colocam democracia em risco
Por Simone Salles
A morte do ativista conservador Charlie Kirk reacendeu o alerta sobre a violência política, um fenômeno que deixou de ser exceção para se tornar parte da rotina democrática em diversos países. Tão grave quanto o crime em si foi a reação das pessoas nas redes sociais: enquanto uns lamentaram a perda do influencer americano de 31 anos, outros chegaram a celebrar.
Festejar a morte de alguém, seja um adversário político ou desafeto, não é apenas um gesto de ódio extremo. É também um sintoma perigoso de que a violência política passou a ser vista como aceitável por parte da sociedade. Esse cenário coloca em risco não só indivíduos, mas o próprio equilíbrio social e institucional. Evidencia, ainda, o grau de polarização da sociedade, o desprezo pela vida humana e a intolerância que ameaça a convivência democrática.
Uma escalada sem fronteiras ideológicas
Atos de violência têm se multiplicado contra figuras de diferentes campos do espectro político, tanto da esquerda quanto da direita. O intuito é, em geral, uma tentativa de amedrontar e afastar determinados grupos da participação no poder, de silenciar ou atacar os valores que defendem. Nos Estados Unidos, ameaças contra legisladores e autoridades atingiram níveis recordes, potencializadas pela circulação de armas, a ação de milícias e o papel amplificador das mídias sociais. O ambiente online, marcado pelo anonimato e pela viralização de teorias conspiratórias e crenças apocalípticas, tornou-se um terreno fértil para a radicalização.
No Brasil, os dados da terceira edição da pesquisa Violência Política e Eleitoral mostram que entre novembro de 2022 e outubro de 2024 foram registrados 714 casos de violência contra candidatos(as) ou políticos em exercício, o maior número já registrado.
Especialistas destacam que o aumento da violência política está diretamente relacionado à radicalização partidária. Há uma tendência já identificada nas pesquisas anteriores da escalada de ameaças e atentados, principalmente, em período de eleições. Essa atitude representa uma ameaça à estabilidade social, pois indica que a violência política tornou-se uma norma aceitável para alguns. A naturalização desses episódios e a resposta insuficiente do Estado contribuem para perpetuar o ciclo de agressões.
Embora não seja um fenômeno novo, a violência política ganhou nova dimensão com o assassinato de Kirk, que somado a tantos outros episódios, mostra que a ameaça não se restringe a um país ou a um partido. É uma tendência global que fragiliza democracias e mina a confiança pública nas instituições.
No fim, a morte de Charlie Kirk não representa apenas a perda de uma vida. É um sinal de alerta sobre a erosão do respeito ao adversário e sobre a banalização do ódio. A aceitação e comemoração desses atos aumentam o risco de uma escalada da violência. Quando a morte de um oponente político é celebrada, o tecido democrático se rompe — e todos perdem.