Alexandre de Moraes amplia julgamento do núcleo da trama golpista de Bolsonaro no STF
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes solicitou ao presidente da Primeira Turma, ministro Cristiano Zanin, mais um dia para a análise do núcleo central da chamada trama golpista. O pedido foi aceito, ampliando o calendário do julgamento.
Além das sessões previstas para terça (9) e quarta-feira (10), o STF terá duas novas agendas na quinta-feira (11), uma no período da manhã e outra à tarde.
No pedido encaminhado, Moraes escreveu:
“Solicito ao Excelentíssimo Presidente da Primeira Turma, ministro Cristiano Zanin, o agendamento de novas sessões complementares para a realização do julgamento, a serem realizadas na quinta-feira, dia 11/9/2025.”
Bolsonaro: da campanha ao tribunal
Na tentativa frustrada de reeleição em 2022, Jair Bolsonaro reuniu ministros, embaixadores estrangeiros e usou discursos públicos para colocar em dúvida a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro, alegando ser vítima de fraude.
Mais de 44 horas após o encerramento da apuração, reconheceu a derrota, mas não desmobilizou apoiadores que bloqueavam estradas e mantinham acampamentos em frente a quartéis do Exército, pedindo intervenção militar.
Segundo investigações da Polícia Federal, o então presidente e um grupo de aliados — os outros sete integrantes do “núcleo 1”, réus no julgamento desta semana — articulavam alternativas para reverter o resultado das urnas.
As apurações indicam que Bolsonaro recebeu e editou documentos que poderiam dar suposto embasamento jurídico a uma ruptura institucional, reuniu-se com comandantes das Forças Armadas para medir apoio e teve conhecimento de um plano para atentar contra a vida do presidente eleito Lula (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do próprio Moraes, antes da troca de governo.
Em 30 de dezembro de 2022, às vésperas de concluir o mandato, Bolsonaro viajou para os Estados Unidos, não participou da cerimônia de posse e só retornou após três meses. Na sua ausência, apoiadores mantiveram os acampamentos, intensificaram manifestações e culminaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023.
Operações da PF e denúncia
A Operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal em fevereiro de 2024, foi a primeira a cumprir mandados ligados ao plano golpista, com base na delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente.
Em novembro do mesmo ano, a Operação Contragolpe ampliou as provas sobre o envolvimento direto de Bolsonaro. Esses elementos sustentaram a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), enviada ao STF em fevereiro de 2025.
Em março, Bolsonaro e os demais acusados passaram à condição de réus, denunciados por cinco crimes, que somados podem resultar em até 43 anos de prisão:
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Organização criminosa armada;
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Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
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Golpe de Estado;
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Dano qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União, com considerável prejuízo;
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Deterioração de patrimônio tombado.
Defesa de Bolsonaro
A defesa do ex-presidente sustenta que os episódios relatados são de natureza política e, no máximo, atos preparatórios sem caráter criminal. Afirma ainda que os documentos que descrevem o plano de ruptura não têm assinatura ou validade jurídica.
Bolsonaro admite ter discutido “possibilidades” com os comandantes das Forças Armadas após a derrota, mas nega qualquer tentativa de golpe. Repete o argumento de que “não há golpe sem tanques nas ruas”.