Quadrilha internacional usou moradores do Jardim Pantanal em esquema de lavagem de dinheiro
Uma organização criminosa internacional utilizou moradores do Jardim Pantanal, um dos maiores e mais pobres bairros da zona leste de São Paulo, para movimentar milhões de reais em um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro. A denúncia foi revelada pelo programa Fantástico, da TV Globo, neste domingo (14).
A quadrilha aplicava golpes por meio de fintechs e empresas de fachada. Em 2022, Santielle de Souza, moradora do bairro, perdeu todos os seus bens após uma enchente. Dias depois, um grupo bateu à sua porta oferecendo “ajuda emergencial”: uma cesta básica e R$ 100. Para receber, bastava fornecer o RG.
“Eles vinham nas casas, aí perguntavam se não queria fazer um cadastro para pegar uma cesta e ganhar R$ 100 para ajudar na enchente. Só que precisava dar o RG”, contou Santielle. Ela recebeu o dinheiro, mas a cesta nunca chegou. Logo em seguida, descobriu que seu CPF havia sido usado para abrir contas bancárias, o que lhe trouxe multas, bloqueios e dívidas inexistentes — situação que se repetiu com outras vítimas.
De acordo com as investigações, os dados coletados eram usados para abrir contas em nome dos moradores, que serviam como instrumentos para lavar dinheiro. Empresas de fachada transferiam valores para fintechs ligadas ao grupo. Uma delas, a RMD Administração Empresarial, teria movimentado R$ 480 milhões. Parte do dinheiro passou pela 2GO Instituição de Pagamentos, ligada ao policial civil Cyllas Salerno Elias, preso na operação.
O caso veio à tona após a denúncia de um morador de Rosana (SP), que perdeu R$ 33 mil em uma plataforma digital que prometia lucros fáceis por meio de tarefas online. A polícia descobriu que o site estava hospedado fora do país e usava robôs para aplicar fraudes em massa. Já são mais de 3 mil vítimas identificadas em todo o Brasil.
O núcleo da quadrilha é composto por brasileiros e chineses. Entre os investigados estão Ricardo Daffre, Carlos Donizete de Souza, Lin Chen, Jie Zhang, Jie Wang, Yao Ji e Xiangguo Li. Cinco deles estão presos; Lin Chen e Yao Ji permanecem foragidos.
As defesas apresentaram versões distintas. Os advogados de Xiangguo Li e Yao Ji alegam falta de provas. A defesa de Ricardo Daffre afirma que ele colabora com a Justiça e é inocente. Já os representantes de Cyllas Salerno Elias disseram que a 2GO entregou todos os dados às autoridades e que a fraude ocorreu no banco de origem. As defesas de Jie Wang e Jie Zhang não se manifestaram, enquanto não foi possível contatar os advogados de Lin Chen e Carlos Donizete.
Fonte: TVGlobo