Por José Gadelha Loureiro
Eva… Bíblia… Eva africana mitocondrial… Marias… Mãe de Jesus… Maria Madalena… Maria da criação… Maria da Anunciação… Maria dos Sofrimentos… Maria dos Pecados… Maria das Vidas Doloridas… Maria de Fernando e Milton…
Maria, Maria, é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta
A história da sociedade humana é marcada por contradições, equívocos e crenças silenciosas; e geralmente é contado sob o ponto de vista do vencedor. E quem conta um conto acrescenta um ponto – independente de ter fundamento ou não!
A construção do imaginário coletivo – desde as vivências da infância – está carregada de um feixe de crenças silenciosas, as quais gradativamente vão se acumulando na mente humana, e formando um tecido de ideias que ditará nossa existência para o resto da vida – a não ser que haja uma Educação Pública consistente. Ausente esta última, a sociedade passa a aceitar seu destino como normalidade.
Maria, Maria, é o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta.
Ocorre que essa dita normalidade caracteriza o senso comum; e como sempre, límpida como água cristalina. Mas, é justamente o normal que esconde a verdadeira realidade, ou seja, o que é invisível. O que está supostamente ausente “a olho nu”, é a dominação simbólica, a qual justifica a dominação do homem pelo capital; e da mulher pelo homem. Nem todo mundo sabe – mas a agricultura foi criação das mulheres; entretanto, com a formação da propriedade privada e do Estado, a mulher passou a um plano secundário, enquanto o homem tornou-se condutor da história – exceto nas sociedades matriarcais.
Dominada a mulher – pela violência simbólica –, a sociedade patriarcal se foi legitimando, e constituindo seus aparelhos de dominação: a propriedade privada, o estado, a manipulação religiosa, os desvios da educação pública dentre outras. Situação bem analisada pelo filósofo francês, Louis Althusser, em Aparelhos Ideológicos de Estado.
Mas é preciso ter força, é preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca, Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria.
A história caminha com marchas e contra marchas, como diria Luiz Carlos Prestes. E como cada tese – ou realidade vivida – apresenta uma antítese, as mulheres começaram a construir uma história de lutas, revelando o calcanhar de Aquiles do Modo de Produção Capitalista – o fim do controle do capital sobre a vida humana representa a libertação da mulher, e consequentemente da humanidade. Todos avanços da humanidade tem as lágrimas, o sangue e o suor da mulheres negras, brancas, pardas e indígenas.
Mas é preciso ter força, é preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca, Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria.
Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca possui
A estranha mania de ter fé na vida.
Da camponesa Margarida Teixeira, da advogada Eunice Paiva; das irmãs Dulce, Doroth; das guerrilheiras (Dina, Dilma, Iara) torturadas pelas ditaduras latino-americanas – por nuestra América; das manequins conscientes que usaram as passarelas contra o arbítrio; das professoras – tão desvalorizadas pelo estado e sociedade; das sambistas – invisibilizadas pelas mídias digitais; das faxineiras que limpam casas, – apesar dos “pitis” de brancas insensatas e mal-educadas! Das faveladas, feirantes e das donas de casa, e trabalhadoras, no geral; que sabem que a vida vale a pena, – embora o pão esteja caro e a liberdade pequena – para lembra o poeta Ferreira Gullar.
Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca possui
A estranha mania de ter fé na vida.
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José Gadêlha Loureiro, professor de História e Secretário Geral da ADEEP-DF (Associação de Diretores e Ex-diretores das Escolas Públicas da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal).