Alunos e professores da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, em Brasília, fizeram uma manifestação nesta quinta-feira (6) para cobrar a saída da administradora judicial da instituição, Vanessa Ribeiro. A advogada é uma das delatoras da Operação Acrônimo, da Polícia Federal, que apura suposta lavagem de dinheiro para financiar campanhas eleitorais.
O protesto foi realizado em frente à sede do Ministério Público do DF, responsável pela nomeação de Vanessa para o cargo. O MP informou que aguarda liberação da Justiça para compor o conselho de curadores da faculdade, que deve suceder a atual administradora na gestão do espaço.
A advogada foi nomeada pelo MP em janeiro, em substituição a outros dois administradores judiciais que estavam nos cargos desde 2013. Porta-voz do Movimento Dulcina Vive e membro da faculdade há sete anos, a produtora Julie Wetzel diz que a situação financeira da instituição tem piorado, e os funcionários estão sem receber há meses.
Julie também afirma que a comunidade foi pega de surpresa pelo afastamento dos ex-gestores, e pela nomeação de Vanessa. O movimento questiona as decisões do MP, e cobra maior diálogo nas decisões administrativas da faculdade.
Entenda o caso
“Como vão escolher os 12 conselheiros sem conhecer a dinâmica da instituição? Sem nossa participação? É isso que estamos questionando”, diz.
Em janeiro, o MP publicou um edital para selecionar os 12 membros do conselho de curadores da faculdade. Atualmente, não há nenhum conselheiro nomeado. O documento foi questionado na Justiça porque não explicava os critérios de seleção para as vagas.
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Fachada da Faculdade Dulcina de Moraes, no DF (Foto: Yasmim Perna/G1)
No mês seguinte, a juíza da 7ª Vara Cível Marilza Neves Gerbim suspendeu a eleição, e pediu ao promotor do MP responsável pelo caso, Josué Arão de Oliveira, que explicasse o regulamento. Segundo o Ministério Público, os esclarecimentos foram prestados em 13 de março mas, até esta quinta, a Justiça ainda não havia liberado o trâmite da seleção.
Em fevereiro, alunos e professores chegaram a ocupar o prédio da faculdade para pedir a troca de gestor. “Esse teatro é um dos corações de Brasília, e não pode ser tratado assim”, reclamou o diretor de teatro Alexandre Ribondi.
A situação se agrava por causa do estado físico do patrimônio. Apesar de uma recente revitalização, o Teatro Dulcina – projetado por Oscar Niemeyer –, e a Sala Conchita de Moraes, localizados no centro da cidade, estão há anos com instalações em estado degradante.
Na Acrônimo
Vanessa Ribeiro é ex-secretária do empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené – ele é o pivô da Acrônimo e acabou preso no ano passado. Em depoimentos à Polícia Federal, a advogada citou subornos de R$ 2 milhões e apresentou relatórios que, segundo ela, comprovariam o esquema de lavagem de dinheiro.
A delação de Vanessa foi negociada diretamente com a Polícia Federal e, por isso, não é reconhecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Esse argumento é usado pelo promotor do MP para “chancelar” a nomeação da advogada, mas é contestado pelo movimento Dulcina Vive.
A Operação Acrônimo investiga um esquema de lavagem de dinheiro em campanhas eleitorais envolvendo gráficas e agências de comunicação. O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), é suspeito de ter usado os serviços de uma gráfica durante a campanha eleitoral de 2014 sem a devida declaração dos valores e de ter recebido “vantagens indevidas” do proprietário dessa gráfica, o empresário Benedito Oliveira. Pimentel vem negando as acusações desde o início das investigações.
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Estudantes e professores fazem manifestação na Faculdade Dulcina, em Brasília, contra decisões do Ministério Público (Foto: Reprodução)
Dívida milionária
A faculdade, uma das principais referências em artes cênicas da cidade, está sob a intervenção do Ministério Público desde 2013. O órgão decidiu agir após constatar irregularidades e dívidas acumuladas que chegam a R$ 13,5 milhões.
Na época, os procuradores consideraram a antiga gestão inapta para administrar o lugar. Foram designados para cuidar provisoriamente da faculdade Luiz Francisco de Sousa e Marco Antônio Hannes. Agora, eles foram afastados.
Segundo o promotor Josué Arão de Oliveira, que assinou o afastamento, a dupla extrapolou o princípio da autoridade investida neles pelo Estado. De acordo com ele, os ex-administradores atuavam sem responder ao Ministério Público.
O movimento Dulcina Vive diz que a ação foi injusta. Segundo os líderes, a dupla conseguiu revitalizar o espaço e recuperar parte da fama de centro cultural do passado. Eles afirmam que, com a mudança, o processo de recuperação está ameaçado. G1