Por Josiel Ferreira
Mantenedora do título IstoÉ, a Editora Três enfrenta crise financeira há anos. Nos últimos tempos, a empresa de comunicação fechou revistas e enxugou o quadro de funcionários e entrou em processo de recuperação judicial desde maio de 2007.
Nesta segunda-feira (22), a sucursal de Brasília, que existia desde a década de 70 — ano de fundação da revista — fechou as portas da principal redação da Revista IstoÉ.
A sucursal estava sob o comando do jornalista Rudolfo Lago, que vinha desempenhando dupla função no grupo. Rudolfo recebeu o comunicado do fechamento, ferindo de morte a Editora Três. A redação de Brasília foi consagrada com os maiores prêmios do jornalismo brasileiro.
A despedida do jornalista foi postada no facebook em forma de desabafo (leia abaixo).
A partir da manhã de hoje, cumpro a dolorosa tarefa de fechar as portas da sucursal de Brasília da revista IstoÉ.
Eu não tenho a menor dúvida de que é um passo célere para o fim da revista e da Editora Três. Tomou-se também a decisão de acabar com a revista Planeta, a primeira revista da editora fundada por Domingo Azulgaray. A decisão tomada hoje é meio como extirpar metade das funções vitais de um corpo para evitar a evolução de um câncer. Até pode diminuir a evolução do câncer. Mas o corpo pela metade não vai sobreviver por muito tempo.
Antes da decisão de por fim à sucursal de Brasília, a IstoÉ, carro-chefe da editora, já vinha funcionando com uma equipe de somente 13 pessoas. Esta sucursal, há alguns anos, tinha só ela mais de vinte jornalistas. Nestes últimos tempos, éramos três. Mas a leitura de qualquer edição da revista demonstrava o volume de produção que tinha Brasília como origem. Das cerca de 70 páginas editoriais da revista, vinte pelo menos eram produzidas todas as semanas pela sucursal de Brasília.
Com relação ao nosso trabalho na sucursal, o que posso apresentar são números e dados. Na medição de audiência da semana passada, as duas matérias mais lidas e de maior alcance nas redes sociais foram produzidas pela Sucursal de Brasília: a entrevista com Dom Falcão, o bispo que se envolveu numa polêmica com Caetano Veloso, e a boa apuração de Wilson Lima sobre a atuação de Flávio Bolsonaro nos bastidores para barrar a CPI Lava Toga.
Ao longo do tempo em que estive à frente da Sucursal, a quase totalidade das matérias que tiveram repercussão foram por nós produzidas. A última vez que IstoÉ foi mencionada no Jornal Nacional foi quando publicamos os áudios das conversas comprometedoras de um secretário do governo do Paraná que mais tarde acabaram levando à prisão do ex-governador Beto Richa. Fizemos ainda uma trabalhosa apuração junto a amigos da ministra Cármen Lúcia, conseguindo extrair diversas declarações ditas por ela a esses amigos sobre a situação do Supremo Tribunal Federal em um de seus momentos mais tensos. Fomos os primeiros a contar sobre a vida humilde na Ceilândia dos parentes de Michelle Bolsonaro. Mostramos as indenizações milionárias e mal explicadas da Comissão da Anistia, publicando pela primeira vez a lista com os nomes e os valores de cada indenização. Publicamos os cheques assinados pela irmã de dois milicianos em nome da campanha de Flávio Bolsonaro no Rio, na última reportagem de grande repercussão de IstoÉ – que, talvez, venha mesmo a ser a última reportagem de grande repercussão de IstoÉ.
Enquanto vamos aqui recolhendo nossas coisas pessoais e nossos papeis, vamos assistindo melancólicos a mais um capítulo dessa triste crise do jornalismo brasileiro. No Brasil, essa crise que é do modelo agravou-se muito pelos equívocos cometidos pelos responsáveis por cada publicação, que não perceberam – e ainda não percebem – as mudanças. Aqui, toma-se a decisão de eliminar o principal foco de produção. Sei lá: vão-se os dedos para não se perder os aneis… (
https://www.facebook.com/rudolfo.lago/posts/2479553442076695 )
Além de Rudolfo Lago, ao menos outros três funcionários foram demitidos em meio ao processo de fechamento da sucursal de Brasília mantida pela Editora Três. O repórter Wilson Lima segue no quadro de colaboradores da IstoÉ. Ele, contudo, passa a trabalhar baseado em sua própria casa como home office.
Desde a entrada de Carlos José Marques, segundo jornalistas que trabalharam na redaçao, localizada no bairro da Lapa, em São Paulo, a revista entrou em parafuso.
Esse desempenho pífio no comando da redação, somado à crise que atravessa o setor, foi fatal para a derrocada da revista.
Domingos Alzugaray deve ter virado no túmulo, como se dizia antigamente, tamanha falta de habilidade da direção da revista para se reinventar, em meio a uma das maiores crises vivenciadas pelo setor gráfico.
A ideia de fechar a sucursal é antiga. Não se realizou mais cedo porque havia resistências no conselho editorial, que, com o passar do tempo, anos a fio, foi diminuindo gradativamente. Isto é, a incompetência prevaleceu sobre o bom senso.
Lamentável, que mais um título da imprensa encolha de tamanho, com o inimaginavel fechamento, para muitos, da sucursal.
Vale lembrar que era a geradora de conteúdo de politica, que, sem dúvida, se traduzia na responsável por manter a receita e o pilar mais importante do prestígio da Editora Três, que, infelizmente, ficou no passado.
E, agora, se encontra em meio a uma queda em alta velocidade no sentido de um possível desaparecimento das bancas de jornal.
Detalhe, ao que parece, só um aporte de um grupo forte, para adquirir a marca IstoÉ, pode tirar a revista do fundo do buraco ao qual caminha a passos céleres.