Por Miguel Lucena
Era quase meia-noite no Gama, hora em que os amores dormem e os poetas andam em silêncio pelos telhados da imaginação, quando o céu, de repente, se abriu num risco de luz apaixonada.
Dizem que foi um bólido — nome bonito e científico para aquilo que o coração mais simples chamaria de suspiro celeste. O tal meteoro, vaidoso como todo apaixonado, cortou os céus do Distrito Federal em direção a Santa Maria, porque soube, pelas constelações fofoqueiras, que a estrela que ele amava havia se mudado para lá.
Não avisou ninguém. Não quis parecer fraco ou piegas. Meteoro que se preze mantém a pose — mas não resiste a uma estrela teimosa, que decide trocar de céu sem dizer adeus.
Quem viu, não entendeu de imediato. O brilho era forte, duradouro, como se o céu tivesse piscado para alguém. Matheus Queiroz, rapaz de 23 anos, entusiasta da astronomia, registrou o momento com sua câmera, mas não captou o essencial: o suspiro que o meteoro deu ao passar bem acima do Flex Gama, já com o coração disparado pela rota do amor.
A estrela, dizem, sorriu quando o viu chegar. Meteoro é bicho que queima rápido, mas, naquela noite, ardeu bonito, só pra dizer que ainda valia a pena atravessar galáxias por ela. E foi assim que o Gama dormiu com luz nos olhos e Santa Maria acordou com um poema no céu.
Afinal, quem nunca teve um amor que fez o mundo parecer pequeno demais?