Mandetta diz que não é hora certa para retorno do futebol

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O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tem restrições quanto ao retorno do esporte bretão aos campos brasileiros. Fanático pelo Comercial do Mato Grosso do Sul, chegou a ser gandula e médico no clube. Para ele, é mais prudente que haja movimentação no sentido de os campos receberem as equipes em outro momento, quando ambas as curvas de casos confirmados e de mortes estiverem em plena descendência.

 

Em entrevista para a “ESPN Brasil”, Mandetta arguiu que não é o momento certo para um retorno ao futebol. Para ele, como o pico da pandemia ainda não chegou no Brasil, isso seria um risco e poderia fazer com que o esporte acelerasse o número de casos.

“Ao meu ver, temos medidas a fazer antes do retorno do futebol. Estamos atropelando a história natural deste vírus e ele gosta de ser desafiado. Tanto que não negociou com ninguém. Todos que desafiaram esta doença tiveram o sistema derrubado. Itália, Reino Unido, Espanha, Estados Unidos”, reiterou como nas entrevistas coletivas quando era então ministro da Saúde.

Números de casos aumentam

Na visão do ex-ministro a doença não é passageira e leve. Segundo ele, não se tem elementos para essa decisão de volta do futebol “no momento que vemos aumentar o número de casos”.

“Seria a possibilidade de pôr o futebol como um vetor de infecção. Vamos esperar um pouco mais, ver o que ocorre na Europa, que já passou o pior da crise, e depois tomar as nossas decisões “, observou.

Mandetta lembrou que o Brasil tem dimensões continentais. E há um grande risco ainda da disseminação do novo coronavírus.

Plano avançado de biosegurança

“Temos cidades em condições complexas e distintas, como é o caso de Fortaleza, São Paulo e quando se coloca todos os jogadores, tem de fazer planos de biossegurança muito avançados. Isso num momento que o número de casos está subindo e não está no pico e nem diminuiu. Teremos escalada em maio e junho e depois em julho é que começamos a ter uma estabilização para em agosto e setembro ter um queda de casos”, projetou Mandetta.

Atletas são jovens, mas e os outros envolvidos?

Ele comentou sobre a volta aos treinos de alguns clubes e fez um alerta. As agremiações contam com atletas jovens, mas há muitas pessoas em grupos de risco.

“Para um atleta jovem esse vírus costuma se comportar de maneira que não costuma ser como uma gripe que tem um período de morbidade e muitos ficam assintomáticos. Depois tem o pessoal de apoio, como treinadores, numa faixa etária mais preocupante e outros grupos de risco submetidos ao mesmo ambiente. O Fla perdeu um massagista histórico (Jorginho) e que simboliza isso”, pontuou Mandetta, que tem simpatia pelo Botafogo do Rio de Janeira e é fanático pelo Comercial de Mato Grosso.

O ex-ministro do presidente Jair Bolsonaro acrescentou que há, hoje, o Sul em situação confortável e o Nordeste com mais problemas, mas isso pode mudar.

“Com o Nordeste melhorando e o Sul ter em junho e julho um aumento na sua escala. Para um Brasileiro que é disputado em vários estados ao mesmo tempo, isso exige muitos debates entre jogadores e os outros profissionais de biossegurança e outros especialistas, para que isso possa ser avaliado.

Em relação aos torneios internacionais, Mandetta vê ainda com mais pessimismo um retorno no curto prazo.

Na visão do botafoguense, as competições internacionais levarão mais tempo. O código de relacionamento do esporte será muito abalado, “teremos um novo normal”.

Olimpíadas adiadas

Ele citou as Olimpíadas, o maior evento da humanidade, que foram transferidas para o ano que vem e isso se for possível.

“Ali é que será um grande divisor de águas, ali teremos um código internacional de biossegurança para todos os esportes. Falamos sobre futebol, mas tem outros esportes”, ressaltou.

Mandetta contou que em conversa com o pessoal de Harvard, soube que os norte-americanos falaram do circuito de golfe. Vale lembrar que é um esporte mais longevo e com grupo de risco, que atrai multidões e popular nos Estados Unidos.

“Cada esporte é cada situação. Todos discutem biossegurança para os seus respectivos esportes. No âmbito da América do Sul, isso passará pelas Eliminatórias e Libertadores. Não consigo imaginar um time de um país de baixa transmissão, o Paraguai ou Argentina, por exemplo. Não vejo um time do Brasil descer em Buenos Aires que faz plano de contingência forte. Isso envolve relações exteriores, Itamaraty, para saber se seria possível ocorrer esse tipo de evento esportivo”, ponderou Mandetta.

Volta ao futebol na Alemanha

O ex-ministro disse que o que ocorre na Europa deve ser analisado, mas que há diferenças. Ele explica que vírus chegou primeiro naquele continente. Agora, o pico já está em desaceleração. Muitos que citam o país, que retornará com o futebol a partir do dia 16, passando que tanto o sistema de saúde quanto o que foi feito de prevenção por lá é totalmente diferente do Brasil e também de alguns países da própria Europa.

Mandetta também argumenta que Alemanha é um dos poucos países com capacidade na saúde, pois ela, além de um número grande de médicos capacitados, trabalha com redundância. Isso significa que o que ela tem ativo para uso, no depósito hospital ela tem guardado em dobro.

Brasil e problemas

Em contrapartida, o Brasil tem problemas de pessoal, profissional de saúde e respiradores. No Brasil, o razoável é administrar a velocidade de transmissão e dar rigidez ao sistema.

“Tentando isso, passaríamos de uma maneira um pouco mais lenta, dois três meses, e teríamos menos perdas. Quando você quer acelerar a volta em nome da atividade econômica ou do esporte, se cai na tentação. Essa aceleração leva a um quadro de transmissão desordenado que leva a cidade ao ‘lockdown’, que é uma medida bem mais dura, impositiva.”

Caso o lockdown venha a ocorrer tudo levará  muito mais tempo para recuperar, tipo a Itália, avisa Mandetta.

A Inglaterra, tateando, está distante e deve prorrogar o retorno das atividades. No Brasil não terminamos a subida, “estamos em processo e isso vai aumentar, ficar mais duro para algumas cidades e já estarmos querendo antecipar o retorno do futebol”.

Em suma, Mandetta entende que os responsáveis deveriam chamar sanitarista, biossegurança que pode ajudar com protocolo organizado para tentar de alguma maneira começar e não acontecer em 10 dias, e 15 dias depois do retorno ter de parar.

Papo com a CBF

Mandetta disse que chegou a conversar, quando ministro, com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) sobre o esporte e que deu uma opção aos dirigentes.

“Conversei com a CBF, com Feldman e o presidente Caboclo ainda num momento como ministro. Mas não havia na mesa uma discussão sobre retorno de futebol. O que disse é que talvez fosse importante começar com os regionais, pois isso seria um contato mais fácil, com os governadores, e viraria um piloto naquele momento que os estados estavam com número baixo de casos.

De acordo com o ex-ministro, essa foi a sugestão. E, ainda, em relação à CBF, ao sair do  ministério “me coloquei à disposição, mas nada muito de analisar um plano de flexibilização. Isso parece que ocorreu agora com a nova equipe de saúde do ministério”.

Mandetta e o futebol

Luiz Henrique Mandetta tem um histórico ligado ao futebol. Como mencionado mais acima, ele tem grande simpatia pelo Botafogo do Rio e é torcedor fanático do Comercial-MS. Inclusive foi gandula e médico da equipe, além de ter frequentado as arquibancadas do Morenão para prestigiar o seu time do coração. Quando médico do clube sul-matogrossense, ele teve uma passagem que determinou o seu fim de ciclo no esporte.

Ele contou que são boas lembranças do Comercial-MS e do Botafogo.

“Eu gosto de ir com a camisa do meu time. Fui sempre muito passional, quando era médico do Comercial nos anos 90, numa Copa do Brasil, nosso time enfrentou o São Paulo em casa e venceu por 2 a 1. Aí teve o jogo da volta. O nosso time era acanhado, nossas camisas estavam rasgadas e um dos fundadores deu jogo de camisa novo e fomos jogar no Morumbi”, lembra ele, saudoso.

Naquele jogo fatídigo para a relação com o futebol resolveu tomar uma decisão importante. “Logo (no início do jogo) o juiz deu um pênalti e eu invadi o campo. Depois disso, meu pai disse que eu era melhor torcedor do que médico. E me proibiu de seguir no clube. Vi que minha carreira no banco do Comercial era melhor ser interrompida”, complementou Mandetta.

 

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